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Para Anne

31 de março de 2020


doze dias estou confinada no meu apartamento. Controlando o desejo de
trabalhar, de estar com os familiares, de respirar ares da rua. O apartamento,
que é grande, ficou pequeno. Do quarto para a sala, da sala para a cozinha,
escritório, quarto, de novo. Dizem que a quarentena será de vários meses.
Resisto, procurando o que fazer: limpeza da casa, leituras, reescrevo textos
sobre as últimas notícias da pandemia, para o site. Mas há um vazio, como se
nada fosse possível preencher. É a falta de liberdade.

Lembrei
da mocinha de 13 anos que sonhava em ser escritora ou jornalista, e que ficou
confinada, num sótão, escondida com a família, tentando fugir dos nazistas. A
história de Anne Frank sempre me emocionou, desde que li seu diário, ainda
adolescente. Depois, há poucos anos, estive na casa, em Amsterdã, onde foi seu
esconderijo. É hoje um museu que recebe visitantes do mundo inteiro. É impactante
passar pelos pequenos cômodos ainda com a mobília que ela usou, ver as fotos que
ela colou na parede do quarto.

Eles
foram para o esconderijo em julho de 1942 e Anne tinha 13 anos. Para não serem
descobertos, não podiam fazer barulho, sussurravam para falar uns com os
outros, comiam o que amigos deixavam, e só tomavam banho aos sábados, de tina. Imagino
que todas essas provações não eram nada comparado ao medo que sentiam, o pavor
de serem descobertos pelas tropas do governo alemão. “Fico aflita com a ideia
de não poder sair daqui, e tenho medo que nos descubram e nos fuzilem”,
escreveu Anne para a amiga imaginária Kitty, no seu diário. Depois ele se deu
conta que era ainda pior: “A emissora inglesa fala de câmara de gás. De
qualquer forma talvez seja a câmara de gás a maneira mais rápida de se morrer”.
Os judeus estavam sendo levados para os campos de concentração.

No
esconderijo não havia janelas. Para ver fora, Anne ia para o sótão, olhar por
uma pequena abertura com vidros. Ela deixou escrito no seu diário:  “ …serei capaz de escrever algo grande,
serei jornalista e escritora? Espero que sim. Eu espero muito que
sim!”.  “Depois da guerra, eu gostaria de publicar um livro com
o título ‘O anexo secreto'”.

Anne
Frank e mais sete pessoas, de sua família e de outra, viveram pouco mais dois
anos no anexo secreto.  O esconderijo foi
descoberto no dia 4 de agosto de 1944. Todos foram para Auschwitz e depois para
outros campos de concentração. Num dia de fevereiro ou março de 1945, Anne
Frank morre, de fome e tifo, no campo Bergen Belsen. Dos que estavam no anexo,
apenas o pai, Otto, sobreviveu, e publicou o diário pela primeira vez, em 1947.
Você conseguiu, Anne.