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Por que todo mundo precisa de um museu para chamar de seu

6 de novembro de 2017

Os direitos culturais estão assegurados
em nossa Constituição. No entanto, a exclusão do consumo cultural é
alarmante: 93% dos brasileiros nunca foram a uma exposição de arte (MinC 2015)  

Como equipamento cultural, os
museus têm papel fundamental na identidade das cidades, seja pelo
aspecto arquitetônico na paisagem urbana ou como parte da história, da
cultura ou memória coletiva dos cidadãos. E têm o poder de aumentar o
tráfego de pessoas nos territórios em que se inserem. Ainda assim, não estão no
cotidiano, nem no roteiro de viagens da maioria da população
brasileira. 

E isso porque existem
vários tipos de museus, ou seja, tem para todos os gostos. Tem o museu Artístico, que é dividido em pinturas
e esculturas (arte antiga, moderna e contemporânea) e arte decorativa
(porcelana, tapetes, vidros, etc.). Tem o museu Histórico, que estabelece um elo entre o passado e o
presente e o museu Científico, com
foco nas ciências sociais: antropológico (ligadas ao homem), etnografico
(estudo de povos, língua, religião, uso e costumes) e folclórico (tradição,
lendas e costumes). Tem o museu
Arqueológico
, que possui acervos de pesquisas de escavações e
museu de Ciências e Tecnologia
que usa a própria ciência e tecnologia para as suas exposições.  Tem ainda
o museu de Ciências Naturais e
Biológicas
que dá destaque à Natureza e o modo de vida dos
habitantes, divididos em:  Jardins (botânicos, ecológicos,
parques) ou Diogramas (reconstrução do ambiente em tamanho natural). Estes
podem também serem ou não Ecomuseus
(aquele que integra o meio ambiente da região). Há ainda os museus de Bairro (os comunitários)
com atividades voltadas para a comunidade, aberto à visitação pública. E vale
lembrar ainda que existe até museu
a céu aberto
… Quem já foi à Inhotim, em Minas Gerais ou à Florença, na
Itália, já conferiu. 

O desenvolvimento e a multiplicação dos museus


Do colecionismo (uma invenção
europeia) para o “gabinetes de curiosidades” o museu surgiu para
abrigar coleções. E o conceito evoluiu com a criação do Museu do Louvre,
em Paris — o primeiro museu nacional de arte. Ele surgiu por ideais
democráticos já que desde o século XVII havia o debate que todos deveriam
ter o direito de acessar a arte. Porém, ainda assim o museu surgiu imbuído de
uma base autoritária — já que as coleções incutiam o gosto de uma elite
impondo seu ideal estético como sendo o melhor para todos. 

Só a partir do século XIX, com a
multiplicação de museus, é que estes locais começaram a ser vistos
como espaços para preservar acervos e obras como representação do
tempo. E no século XX, graças à pressão social, o museu evolui
para ser, de fato, um espaço cada vez mais público.

Mais recentemente, a instituição
museu — independente do tipo — começa a destacar a importância da
interatividade e da inclusão de pessoas com deficiência. Afinal, o
museu, além de preservar e expor, deveria receber visitas de vários
públicos e ter mediadores preparados.  Desta forma, surgiram também os
programas educativos.

Destaque: O museu é instituição que
detém as memórias da coletividade e deve, cada vez mais, dar acesso genuíno às comunidades.

Além de servir para o aprendizado,
o museu ajuda a incorporar sentidos e fortalece a individualidade sensível e
social. No caso do museu de arte, serve para potencializar o
questionamento, contribuir para as pessoas se expressarem porque provoca diálogos.

A arte desperta e forma a consciência crítica e o museu é o espaço de
relacionamento para compreender o mundo e compreender o outro.  A arte não
propõe respostas, mas estimula a fazer perguntas. 

Por isso, para realmente servir
como lugar de comunicação e de ideias, o museu tem que falar a língua das
pessoas, para nutrir a capacidade social de criar valor e inovar, para que a
gente aprenda a apreender, para que a gente possa criar repertório e
estabelecer relações e, assim, expandir a mente e pensar por conta
própria. 

O museu é um espaço que
democratiza os saberes e ativa conhecimento, por isso o incluo nas minhas
escolhas, sejam elas de motivação turística ou intelectual. O certo é que
sempre espero que estes espaços me provoquem uma experiência
abrangente, que vá muito além das exposições.

Assim, após mais 200 anos da
criação do primeiro museu, penso que esta instituição serve
para estimular a contemplação, a convivência e até como opção
de entretenimento. E claro: o  museu serve para esfregar na nossa cara
que, enquanto todos morremos, as obras de arte continuam. Sim, o museu serve pra isso: pra gente entender a
transitoriedade humana e tentar ser pleno de realidades e de fantasias e,
assim, batalhar por viver uma vida menos ordinária.
 O museu
serve pra atiçar e sensibilizar. Serve para que a gente possa
questionar, filosofar, perguntar e aprender a crescer como pessoa.
Serve pra gente evoluir. Sim. Eu sempre saio muito “maior” de um
museu. Porque é dentro dele que constato o tamanho da minha insignificancia.

A necessidade da convivência com arte

A prática de ir a museus não
é um ato natural: é resultado de um processo dinâmico de constituição cultural.
E estar perto de um museu não garante a apropriação do espaço. Há
segmentos sociais que não compreendem a ida ao museu como algo “necessário” em
suas vivências estéticas e culturais porque ainda não adquiriram o hábito (ou
como diria uma especialista: uma criança desnutrida, não sente fome). 
O gosto por museus, assim como qualquer gosto expresso em práticas culturais,
envolve aprendizado e exercício condicionados pelo ambiente familiar e
escolar. 

Quer saber mais? Assista a série
Museu em Movimento (https://www.youtube.com/watch?v=KOPh_ayCG04)

Na foto à esquerda, a obra de arte contemporânea de Gu We nda, de Xangai. As bandeiras dos países foram produzidas com cabelos humanos. O que artista tentava dizer? Que somos todos iguais? É assim nasce a subjetividade da experiência e do contato com a arte. Londres, Jan/2015.