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Espaços criativos para garantir nossa sanidade mental 

6 de maio de 2016

Uma das experiências mais marcantes que tive em 2015 foi ser levada pelo artista visual fluminense Davy Alexandrisky a conhecer o Hotel da Loucura, no Engenho de Dentro, na capital carioca. Trata-se de um andar inteiro de um complexo psiquiátrico dedicado à criatividade com oficinas de arte, espetáculos, palestras e reflexão sobre a loucura. O local também hospeda médicos, artistas e pesquisadores que querem conviver com os pacientes.

Esse espaço é palco de propostas revolucionárias para a saúde mental desde que a psiquiatra alagoana Nise da Silveira inovou ao trocar choques elétricos por tintas e pincéis (de 1940 a 1960). A pioneira na aplicação da arte ao tratamento psiquiátrico é tema de um filme com estreia prevista para este mês e torço que arrebate multidões. 

O Instituto Nise da Silveira já teve dois mil internos, número que vem reduzindo gradualmente, liberando espaços físicos. Nos dois andares acima do Hotel da Loucura, há ainda enfermarias – masculina e feminina. Um desses espaços foi ocupado pela proposta do Dr. Vitor Pordeus e transformado na UPAC – Universidade Popular de Arte e Ciência e no Hotel da Loucura. Na área externa, o Spa da Loucura, um conjunto de equipamento para exercícios físicos.

E quem são os pacientes que frequentam o Hotel da Loucura? Todos nós. Todos somos loucos em potencial. De acordo com os médicos há muita relação entre a vida urbana e os distúrbios mentais. E o pior: a concentração de 70% da população nas cidades (até 2050) deve contribuir com o aumento do número de distúrbios psíquicos como depressão, demência, ansiedade e psicose. O que Vitor Pordeos propõe no espaço é uma saúde mais democrática que permite a manifestação do outro e onde a criatividade é fonte geradora de saúde. 

Richard Burdett, professor de estudos urbanos da London School of Economics, que estuda o neuro-urbanismo — uma nova área do conhecimento que investiga a relação entre o estresse e as doenças psíquicas — tem uma proposta. Ele defende que deve haver espaços de criatividade nas cidades para evitar a propagação de doenças psíquicas.  E fala que as pessoas precisam ter acesso a salas de cinema, encontrar-se com amigos, brincar nos parques e passear nas margens dos rios.

“Os arquitetos se preocupam com as proporções e as formas, e os urbanistas, com a eficiência do transporte público. Mas muitas vezes não têm ideia do que isso faz com as pessoas”. 

Bem. Eu estive no Hotel da Loucura e isso me fez muito bem. Percorri salas e corredores onde as paredes têm muita poesia, manifestos, cores e pinturas. Senti o acolhimento e interagi nestes espaços criativos. E vivenciei um momento terapêutico, praticamente festivo: havia um sarau, uma roda de pessoas onde cada um podia entrar para recitar, cantar e se expressar de alguma forma. Naquele processo, o mais  importante é não distinguir quem é paciente, educador, pesquisador ou profissional da saúde porque trata-se de inclusão. Ali não era possível saber quem era louco ou quem era são.

Eu gostaria de viver em uma cidade em que me sentisse acolhida com mais espaços de criatividade, pela arte, pela igualdade. E foi em um hospital psiquiátrico que vi a proposta da “cura” da loucura pela convivência, prescrita em doses de alegria, criatividade e afeto.

Desta experiência e desta descoberta ressalto a defesa da Arte e Cultura como vetor da saúde pública. E comemoro a ação do Governo Finlandês que decidiu recentemente investir em serviços de arte e cultura para toda a população como parte do sistema social e dos cuidados de saúde. O projeto-piloto terá recursos de dois milhões de euros. Enquanto isso, somente a depressão tem custo de 120 bilhões de euros por ano na Europa… E no Brasil? Não encontrei dados. Isso, sim, é uma loucura. 

Obrigada Davy Alexandrisky! 

Assista o vídeo 

http://bit.ly/1WJ0pof