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Um dos monumentos mais perfeitos do Brasil, aqui em João Pessoa: quem disse foi Mário de Andrade

6 de novembro de 2015

Decidimos fazer algumas séries sobre os monumentos da Paraíba. Começamos aqui, em João Pessoa, pelas nossas igrejas seculares. Como se sabe a Paraíba teve bases sólidas de sua fundação alicerçadas pelas ordens religiosas dos franciscanos, beneditinos, jesuítas e carmelitas. O legado está em suas igrejas, tão importantes, hoje, como parte de nossa cultura. 

Este é um dos monumentos mais visitados pelos turistas na Paraíba e, eu, sou particularmente apaixonada pela nossa Igreja de São Francisco, como, comumente, a chamamos. Mas saibam que o nome certo do lugar é Convento de Santo Antônio, que abriga a Igreja de São Francisco, a Capela de São Benedito, a Casa de Oração dos Terceiros, também chamada de Capela Dourada, o Claustro da Ordem Terceira, nos seus quintais, uma belíssima fonte e um relógio do sol, e, na frente, o grande adro com o cruzeiro, bastante incomum em suas dimensões. 

Todo esse complexo é um dos representantes mais importantes do barroco brasileiro. Sua importância é tamanha que o monumento foi tombado pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1952, e ganhou referência de estudiosos como o historiador de arte francês Germain Bazin, autor de mais de 30 livros, que destacou nossa Igreja de São Francisco como o perfeito representante da escola franciscana de arquitetura do nordeste brasileiro. E ninguém menos que o escritor Mário de Andrade, em andanças pelo nordeste para conhecer nossa cultura, escreveu: “Estou assombrado. A Paraíba possui um dos monumentos arquitetônicos mais perfeitos do Brasil. Eu não sabia…poucos sabem”.

Acredito que muitos paraibanos nunca entraram no Convento para se embriagar com tanta beleza e tantos detalhes! E não sabem do valor que isso tem. O púlpito da igreja principal foi considerado pela Unesco como único do mundo pela riqueza de sua talha. São imagens belíssimas, um santo Antônio com um cocar, tetos com pinturas ilusionísticas que contam a história de José do Egito, ajulejos portugueses do século XVIII com cenas da paixão de Cristo…O barroco brasileiro exposto com suas características tão peculiares, seus abacaxis, seus cajus, suas sereias! Não é maravilhoso saber que este monumento, com construção iniciada em 1589, até nossos tempos está de pé, preservado e cheinho de atrações? Este patrimônio é considerado um dos mais belos conventos franciscanos do país. 

Os frades franciscanos passaram cerca de trezentos anos no Convento.  Depois que saíram, o local ele serviu de fortaleza, durante os anos de invasão dos holandeses, foi também seminário diocesano e colégio, e também Museu do Estado. No governo de Tarcisio Burity, precisamente em 1979, o Convento de Santo Antônio passou por dez anos de uma complexa restauração, o que foi fundamental para estar assim, preservado. Em 1990 o Convento, que pertence a Arquidiocese da Paraíba, passou a ser um centro cultural com museu de arte popular, de arte sacra, e é local para exposições e eventos. 

A historiadora Glauce Burity apresentou dissertação de mestrado sobre o monumento, com o título “A presença dos franciscanos na Paraíba através do convento de Santo Antônio”, e produziu trabalho de fôlego investigando, em documentos históricos, aspectos sobre a fundação do convento, primeiros frades, missões, perseguições, e vários capítulos detalhando seu esplendor e valor artístico. Disse ela: “Na verdade, ao percorrer o seu vasto templo, sentimos, em toda a parte, a presença marcante daqueles artistas, bem como a força de seus dirigentes espirituais, fruto de uma época onde a Paraíba, importante centro econômico canavieiro, soube tão bem dinamizar e dar vida ao novo estilo de arte arquitetônica colonial”. E prossegue: “Para nós, paraibanos, falar de arte barroca é falar da nossa própria origem cultural, da nossa formação histórica, das nossas razões espirituais e da íntima ligação do barroco aos nossos colonizadores portugueses, arte que, transplantada de Portugal para o Brasil, aqui vingou e se moldou segundo nossa realidade tropical”