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Covid-19 na população infantil

2 de fevereiro de 2021

Como pediatra, proponho-me a abordar o tema da pandemia da covid-19, com foco em sua prevalência sobre a população infantil, ressalvando que ainda não existe uma literatura científica consolidada sobre muitos aspectos da temível patologia, em particular, em relação à faixa etária de zero a catorze ou quinze anos.

A covid-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, e que apresenta um espectro clínico variado, que vai de infecções assintomáticas a quadros graves. O contágio ocorre de pessoa doente para outra sadia, por contato próximo, por meio de gotículas de saliva, espirros, tosses, secreção catarral, mãos infectadas, objetos ou superfícies contaminadas, como celulares, mesas, talhares, maçanetas corrimões, brinquedos, teclados de computador ou piano, etc. A doença pode ficar incubada por até duas semanas (média de 14 dias) após o contato como o vírus.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 80% dos pacientes acometidos pela enfermidade podem estar assintomáticos ou oligossintomáticos (poucos sintomas), e apenas aproximadamente 20% dos casos detectados requerem atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais, 5% podem necessitar de suporte ventilatório.

Segundo o Boletim Epidemiológico nº 62, de 6.10.2021, da SES-PB, na faixa etária de zero a nove anos, já foram registrados em nosso estado, até a citada data, 6.117 casos da virose em crianças – 3.071 do sexo masculino e 3.046 do feminino. De 10 a 19 anos, foram 4.746 e 5.491, respectivamente. Considerando os óbitos por faixa etária e percentual de letalidade, temos: > 28 dias, 42 casos, 2 óbitos (4,76%); 28 a 364 dias, 66 casos (21.21%); 1 a 4 anos, 59 casos, 3 óbitos (5,08%); 5 a 9 anos, 45 casos, 2 óbitos (4,44%); 10 a 14 anos – 44 – óbitos (0 0,00%). Total: 261 casos 21 óbitos (8.0%).

Em maior ou menor amplitude e gravidade, a virose cursa entre as crianças com prostração ou astenia, febre, tosse, dores de garganta e de cabeça, dificuldade de respirar, coriza ou obstrução nasal e, não raro, com manifestações gastrointestinais (como cólicas, vômitos e diarréia), além de comprometimentos da sensibilidade olfativa e gustativa. Entre os recém-nascidos, os meninos parecem ter mais chances de serem infectados do que as meninas. Ainda não há informação sobre a possibilidade de transmissão do vírus da mãe para o bebê, durante a gestação. Diferentemente do adulto, a maioria das crianças apresenta quadros leves ou moderados, com reflexos na redução da (4%) no número de internações hospitalares e nas unidades de terapia intensiva.

No entanto, alguns desses pacientes podem ter a forma grave da doença, principalmente aqueles com idade inferir a 12 meses que sejam portadores de doenças bronco-pulmonares, cardiopatias ou tenha baixa imunidade. Sabemos que a população infantil é vulnerável à forma mais grave da doença, porquanto, o número de pessoas doentes que perderam a vida pela COVID-19 é de 2,3%, na faixa etária de 10 a 14 anos ela é de 10,05%, isto é, cinco vezes maior, diz o nosso Secretário de Saúde Dr. Daniel Beltrame.

Quanto ao diagnóstico, há os chamados testes rápidos que se baseiam na identificação de anticorpos (imunoglobulinas) produzidos pelo corpo para combater o vírus, em amostras de sangue do paciente, com a vantagem e a possibilidade de serem utilizados em massa, porque não exigem laboratório, além de ficarem prontos na hora. A desvantagem, porem, é que ele não identifica o vírus, mas anticorpos (imunoglobulinas) produzidos pelo organismo para combatê-los. Uma vez que esses anticorpos demoram entre 7 a 8 dias para serem produzidos pelo organismo, esse tipo de teste é eficiente para detectar pessoas recentemente infectadas.

Já o PCR, também chamado teste molecular, detecta fragmentos do próprio vírus em amostras de mucosa do aparelho respiratório. Tem como vantagem confirmar casos em doentes sintomáticos, tornando possível aplicar condutas médicas apropriadas, como internação, isolamento social ou outros, de acordo com a evolução de cada caso. Sua desvantagem, porém, é o fato de ser mais caro e exigir infraestrutura de laboratório e corpo técnico capacitado. Não existe tratamento específico para infecções causadas elo coronvírus humano. No caso da covid-19, são indicados repouso e consumo de água, além de algumas medidas adotadas para aliviar os sintomas, como uso de medicamentos para dor e febre (antitérmicos e analgésicos). A cloroquina (usada na profilaxia da malária) e a ivermectina (antiparasitário) não têm merecido recomendação ou prescrição por parte de renomados especialistas. Assim que os principais sintomas surgirem, é fundamental buscar isolamento doméstico.

Apenas em caso de piora do quadro clínico, como persistência da febre, dificuldade de respirar, deve-se buscar atendimento em Unidades Básicas de Saúde ou UPAs mais próximas que poderão recomendar internações de urgência. São medidas indispensáveis à prevenção da doença o distanciamento  social; higienização  das mãos com água e sabão e uso de álcool em gel; desinfetar as superfícies e objetos que são utilizados habitualmente; evitar tocar a boca, os olhos e o nariz, utilizar máscaras, desde que maiores de dois anos, com supervisão frequente dos pais. Procurar ajuda médica sempre que notar um comportamento diferente ou algo que chame sua atenção  em relação à criança. 

Sebastião Aires de Queiroz | CRM-PB: 475 | Especialidade: Pediatra e médico do trabalho