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“Infelizmente as questões de prioridades logísticas no Nordeste não são as mesmas que as do Sul”

5 de fevereiro de 2014

O professor Fernando
Trigueiro, mestre em Planejamento Estratégico, presidente da Associação
Nordestina de Logística (Anelog) e professor-doutor em Gestão de Estoque pela
Universidade Autônoma da Espanha, esteve em João Pessoa para divulgar a Movimat NE Feira Internacional de Intralogística, que será realizada no Recife, de 25 a 28
de março.

Antes da palestra, voltada
para estudantes e profissionais da área, ele conversou com o Paraíba Total sobre a importância da
logística para a cadeia de suplemento, os
gargalos do setor e sobre a atuação da Paraíba, que tem apenas cinco membros na Anelog. “A
Paraíba tem hoje um potencial tremendo, mas é preciso saber quais são as
oportunidades e ter tempo hábil para abraça-las. Agora, existe uma carência que não é só da Paraíba, que é o problema com mão-de-obra
especializada”, comentou o presidente.

Segundo ele, o conceito de
logística evoluiu, e é necessário que os que estão envolvidos na cadeia
compreendam e atuem nessa ampliação. “Até então, se falava em logística para se entregar o
produto ao cliente. Mas o conceito é muito além, é um
conceito novo, é um conceito de supply chain. Você tem que pesar do consumidor
de uma ponta ao fornecedor na outra ponta. 
O grande desafio é gerenciar toda essa cadeia”, salientou.

Na entrevista que segue, Trigueiro
também aponta possíveis soluções para melhorar o setor não apenas no Nordeste, mas em todo o País. “Num País como a
dimensão do Brasil, são necessárias ferrovias para integrar as grandes
commodities e, nos pequenos produtos, uma boa malha viária seria a solução. Mas
não falta dinheiro. Falta vontade”.

Qual
principal objetivo da vinda do senhor à Paraíba?

O objetivo é divulgar a
Movimat, que é uma das maiores feiras do Brasil sobre movimentação e
armazenagem de materiais, realizado há mais de 20 anos em São Paulo e que foram
agora regionalizadas. Além disso, participar da palestra, que tem o
objetivo de mostrar para o público presente uma pesquisa que realizamos no Nordeste
para abrir os olhos do nosso empresariado e dos nossos gestores sobre o que
eles precisam para aumentar a competitividade das empresas, baseados nos dados
que o mercado está apontando. É preciso que nosso empresariado
fique atento, e é o mercado que está dizendo, pois quem é o nosso principal
cofre é o consumidor. Portanto, se deixamos o consumidor satisfeito, nós
teremos condições de sermos mais competitivos.

Como
será a Movimat Nordeste?

A Feira Internacional de
Intralogística, que será realizada no Recife, de 25 a 28 de março, é a edição
regional da mais bem conceituada e tradicional do setor em toda a América
Latina. Ela vai reunir em um único lugar os principais representantes de
produtos e serviços para as fábricas, voltados para as áreas de armazenagem,
elevação, automação, embalagem, movimentação e empilhadeiras. A feira surge no
atual cenário de desenvolvimento como um agente facilitador para a
transformação de Suape no principal centro de fornecimento de bens e serviços
para petróleo e gás, produtos químicos, metalurgia, transporte e logística.
Estamos com uma expectativa muito boa, pois por onde temos passado o nível de
aceitação tem sido muito bom, tem inclusive caravanas já sendo organizadas. E
isso é ótimo porque o que vamos mostrar são as novas tendências de tecnologia
de movimentação, de tecnologia de armazenagem e de gestão para que nosso
empresariado possa ficar não só atualizado, mas começar a investir para ficar
competitivo.

Várias
indústrias começam a chegar em nosso Estado e em Estados vizinhos. Como o
senhor avalia a Paraíba em relação à cadeia logística praticada aqui?

Esse é o nosso objetivo, precisamos
dar essa bola para o pessoal fazer o gol. A Paraíba tem hoje um potencial
tremendo, mas é preciso saber quais são as oportunidades e ter tempo hábil para
abraça-las. Agora, existe uma carência e que não é só da Paraíba, que é o problema com mão-de-obra especializada. Então, precisamos urgente desse
tipo de mão-de-obra, principalmente na área de gestão. E não é à toa que estão
aparecendo MBAs logísticos, cursos rápidos de logísticas, como forma de
capacitar rapidamente. Os investimentos vieram de forma mais rápida do que o
tempo da preparação de mão-de-obra e de infraestrutura.

Como
seria a logística ideal? E qual o grande desafio para gerenciar uma cadeia
logística atualmente?

Até então, se falava em
logística para se entregar o produto ao cliente. Mas o conceito de logística é muito além, é um conceito novo, é um conceito de supply chain. Por
exemplo, em cadeia de suplemento, você tem que pesar do consumidor de uma ponta
ao fornecedor na outra ponta. O grande
desafio é gerenciar toda essa cadeia. É para isso que devemos nos preparar e vemos
que o pessoal não está fazendo isso, não está devidamente preparado. Num País
como a dimensão do Brasil, são necessárias ferrovias para integrar as grandes
commodities e, nos pequenos produtos, uma boa malha viária será a solução. Mas
não falta dinheiro. Falta vontade

A
associação tem alguma forma de fomento para facilitar nesse sentido de qualificação
em gerência logística?

Bom, a associação nordestina
de logística tem convênios com academias não só no Brasil, mas também no exterior,
como forma de preparar e fomentar essa carência existente, além de fazer
algumas intervenções em nível governamental. Também estamos subsidiando alguns
governos com dados e com propostas para que eles possam se preparar para não
serem pegos de surpresa, por exemplo, atualmente nós estamos fazendo uma
intervenção junto à Secretaria da Fazenda. É um absurdo um caminhão ficar
parado em média quatro horas em um posto fiscal, limitando o seu potencial de
trabalho.  Tudo isso gera prejuízo, pois
aumenta o custo do frete e o preço do produto.

A
mão de obra seria realmente o principal gargalo do setor?

Sim. Este é o maior
problema. Pela falta de mão de obra capacitada, as empresas estão buscando seus
gestores fora do País. Nós estamos tentando sensibilizar as autoridades e os
empresários para esse problema. Não adianta também ter apenas conhecimento se não
for praticar. Nosso País está defasado em tecnologia em, pelo menos, uns 30
anos, se for comparar com outros países mais desenvolvidos.

As
micro e pequenas empresas, até por falta de capital, não costumam dar muita
atenção aos setores de logística e administração de estoques. Qual a saída?

Também se especializar. O
micro e pequeno empresário precisam conhecer o seu ramo. Não é apenas ter um
pequeno capital e montar um negócio, é preciso conhecimento do mercado e de
gestão, que é mais uma forma de sistematizar princípios e conceitos com
ferramentas e técnicas apropriadas. Mesmo sendo o dono da empresa, ele precisa
conhecer princípios e conceitos da área em que atua, as ferramentas que ele tem
à disposição no mercado e fazer uso delas e do conhecimento para obter melhores
resultados do seu negócio. 

Além
da falta de mão-de-obra especializada, a carência de infraestrutura também
poder ser considerado um outro gargalo do setor?

É também, pois tiveram a
preocupação de atrair as empresas, mas se esqueceram que a velocidade de
atração é bem diferente da preparação dessa infraestrutura. Recentemente, tivemos
surpresas, onde elementos de infraestrutura que poderiam dinamizar ainda mais o
Nordeste, como é o caso da Transnordestina e o Polo logístico de Salgueiro. Ampliação
de algumas rodovias facilitaria o escoamento de carros, mas estão todas com as
obras paralisadas. Até houve um pequeno avanço, mas muito ainda há de se
melhorar para que não venhamos perder cada vez mais nossa competitividade. E
recursos para isso existem. Foi criado o CID, que é o imposto que incide sobre
combustível, justamente para expandir a malha rodoviária brasileira, mas
desses recursos apenas 30% foram utilizados. Infelizmente as questões de
prioridades no Nordeste não são as mesmas que as do Sul, e o que falta é
vontade política dos nossos governantes. Nossos problemas se estendem também às
ferrovias, aos portos, que precisam e podem ser bem dinamizados, e que hoje só
se utiliza de 3% a 4%. Faltam navios para a cabotagem e os portos não estão
devidamente equipados. No Nordeste, temos condições de fazer isso, de
alavancar. Cabedelo é um bom exemplo.

Como
funciona a Anelog?

A sede da nossa associação
fica em Pernambuco, mas nos temos representações em todos os estados
nordestinos. Temos cerca de 400 associados e não temos fins lucrativos. Foi
fundada por uma grupo de profissionais que tem uma ideologia de ver o País
crescer e que não depender financeiramente dela. Nossa principal missão é
difundir os conceitos da logística e sua importante no mundo e na nossa região,
perante as pessoas de um modo geral e, principalmente, junto ao empresariado de
nossa região.

Como
é hoje a representatividade da Paraíba na Anelog?

Infelizmente nós perdemos um
nosso membro da Paraíba com assento na associação, por que ele foi transferido
do Estado, mas já estamos buscando um novo membro para ocupar o posto. Também
temos poucos associados da Paraíba, são apenas cinco, infelizmente.

Como
é desenvolvido o trabalho da Anelog em termos de orientação aos seus
associados?

Nós promovemos intercâmbios
com universidades, com academias, vistas técnicas e treinamentos, como forma de
passar esse conceito de logística, pois a logística pode ser feita inclusive em
casa, quando você muda, por exemplo, a arrumação de sua casa. Hoje temos
inclusive a logística reversa, que é uma processo de reciclagem de objetos para
outras finalidades, preservando a sustentabilidade. Nosso interesse é passar
essa ideia de logística e mostrar de qual maneira ela pode trazer e alavancar o
desenvolvimento de uma região.