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“Acredito que João Pessoa vai se transformar na capital da tecnologia nos próximos anos”

18 de agosto de 2014

Após cinco edições consecutivas realizadas no Sudeste/Sul do país, a Capital paraibana voltou a sediar o Encontro Brasileiro da Associação Nacional para Inclusão Digital (Anid), que chegou à sua 7ª edição. O evento, que teve o apoio do Paraíba Total, aconteceu de 13 a 15 deste mês e debateu temas importantes, como inclusão digital, marco civil e democratização da internet. 

Em entrevista exclusiva ao Paraíba Total, o presidente nacional da Anid, Percival Henriques, fez uma avaliação positiva sobre o encontro. “O primeiro e grande objetivo atingido foi fazer o networking, promover o encontro entre as pessoas que praticam e vivem dessa atividade. Para se ter uma ideia, a produção de conteúdo na internet é uma das coisas que está em grande evidencia e a economia digital precisa ser movimentada”, comentou o presidente, durante a entrevista.

Apesar da de toda a tendência tecnológica no país, Percival revelou que ainda existe uma grande déficit de profissionais para atuar na demanda brasileira de desenvolvimento de tecnologia. “O Brasil precisa, somente neste ano, para manter o seu desenvolvimento, de 70 mil técnicos e engenheiros”, contou ele.

Confira demais pontos da entrevista.

Qual o seu balanço da VII edição do Encontro Nacional de Provedores de Internet no Brasil?

Na verdade, o encontro da Anid engloba os provedores de internet. Esse encontro que já ocorreu em São Paulo e em várias localidades do Sul do país. Neste ano resolvemos voltar com ele aqui pra Paraíba. Inclusive o primeiro e segundo encontros foram sediados na Paraíba, já que a presidência nacional da Anid está na aqui, em João Pessoa. A nossa expectativa não foi diferente do que aconteceu em outras edições, ou sela uma grande quantidade de fornecedores de tecnologia, de desenvolvedores, de provedores de internet de associações ligadas ao empreendedorismo, de pessoas ligadas às empresas de base tecnológica. E o que é que a gente faz, nós fomentamos o desenvolvimento de tecnologia e a socialização do conhecimento no interior do Brasil, principalmente. Então, tentamos levar internet, levar conhecimento, tecnologia para os lugares mais remotos do Brasil. E aí, os provedores de internet, por exemplo, são pequenas e micro empresas, cerca de 5 mil provedores no país, que levam internet para os lugares mais distantes. A Anid auxilia também esses provedores. Às vezes até a própria Anid e faz isso sozinha, quando não encontra um parceiro – geralmente aos locais públicos, de uso coletivo.

Quais os principais objetivos de um evento de tecnologia como esse, tanto para o mercado quanto para a sociedade?

O primeiro e grande objetivo atingido foi fazer o networking, promover o encontro entre as pessoas que praticam e vivem dessa atividade. Para se ter uma ideia, a produção de conteúdo na internet é uma das coisas que está em grande evidência e a economia digital precisa ser movimentada. Nós temos vários fornecedores de tecnologia que oferecem TVs a cabo para esses provedores. Uma cidade como Cajazeiras,  Patos,  Juazeiro do Norte, Petrolina ou como Taperoá, podem ter TVs a cabo locais, frutos de uma reunião como do nosso evento. Cidades como Diamante, Barras de Oitis, podem ter internet de alta qualidade, frutos de tecnologias que também são conversadas e definidas em encontros como esse. A Anid faz então a convergência dessa tecnologia e tenta fazer com que esse resultado sirva para a sociedade da melhor forma possível. Ou seja, é pegar o melhor do que cada um tem para oferecer e transformar isso no que a sociedade melhor absorver, seja ela paraibana, brasileira.

Por que a capital paraibana, João Pessoa, foi escolhida como cidade para acontecer o evento deste ano?

Nós fizemos o primeiro evento aqui em João Pessoa, e depois só no Sul do País. E esse ano nós resolvemos voltar ao Nordeste porque muitos fornecedores, associados e pessoas no geral estão querendo discutir tecnologia novamente aqui na Capital.  João Pessoa foi palco de grandes eventos recentes em que a Anid teve uma participação, como foi Brasil Canadá 2.0 e a Copa do Mundo de Robótica, a Robocup 2014. Aqui vai acontecer a Alemanha 3.0, bem como ainda estamos brigando para a Capital paraibana sediar o fórum mundial de internet, o GF de 2015. Portanto atendendo a essa cobrança,  pelo fato de a sede da Anid também ser aqui, foi a nossa escolha para essa edição do evento. Esse foi o motivo. As pessoas da área queriam retornar à Paraíba e nesse clima todo não havia motivo de não ser aqui. Além disso, é uma oportunidade para os estudantes do ensino tecnológico local participarem. Muitos nem sempre tem como ir aos eventos nacionais, que precisam desse contato e que são o nosso futuro em termo de tecnologia e ainda desmistificar que tudo que é bom tem que ser feito no sul e sudeste do país. E também eu acredito que João Pessoa vai se transformar na capital da Tecnologia nos próximos anos.

Como o senhor avalia a produção em tecnologia que estão acontecendo em nosso País?

São muito importantes, mas estão muito ainda aquém das suas necessidades. O Brasil precisa esse ano, para manter o desenvolvimento, e passar de 5% desse desenvolvimento, de 70 mil técnicos e engenheiros. Mas ele só consegue formar com esforço, com a ampliação do ensino tecnológico no interior, formar 40 mil. Nós temos, por ano, um déficit de 30 mil engenheiros e técnicos que o mercado de trabalho precisa e que nos não conseguimos formar nas nossas universidades. Então, na básica da formação já temos muito pouco. Se colocarmos a expectativa de ciência e tecnologia, mais pesquisa e desenvolvimento, aí é que fica pior, fica longe. Temos uma grande capacidade de pesquisa e desenvolvimento mas não temos nada ainda investido de forma suficiente para isso.  A gente quer que o povo faça ciência, que a pequena e micro empresa do interior se estabeleça e faça pesquisa tecnológica lá, de uma forma que a universidade, sozinha, não cuide disso. O governo devem estar presentes, a sociedade civil também precisa estar junto, para que todo esse conhecimento produzindo também seja compartilhado para o bem da sociedade. O ideal é que aconteça pesquisa em todos os campos, na universidade, nas empresas, da sociedade civil organizada, desenvolvendo produtos para que a partir daí sejam tenham um resultado. E para o desenvolvimento do país. O Banco Mundial inclusive diz que empata em 10% de desenvolvimento da região que tem internet, seja banda larga ou não, e por tudo isso é importante esse povo está aqui pensando e desenvolvendo.

Como o senhor avalia o Programa Cidades Digitais?

Olha,  do meu ponto de vista, é um esforço do Governo. Ele vai colocar fibra ótica em parte dos municípios. Se for considerar que na metade das cidades que foi feito isso, metade da população está na zona rural, então, que não está contemplada. E também para que isso se desenvolva as prefeituras têm que desembolsar uma grana que não tem. Precisam ter técnicos para isso e, muitas veze,s não têm. Precisa ter  internet nesses lugares. Então, veja uma cidade como Vieirópolis, por exemplo. Ela foi contemplada com o programa, mas tem que desenvolver tudo, pois o governo federal vai apenas fazer o edital e colocar lá os cabos de fibra ótica. Então o município vai ter que ter os programas, os computadores e tudo mais. É como colocar internet em escolas. Quando lá se coloca, vão ter as aplicações, os produtos, os meios de como se utilizar a internet. Então, muitas vezes, ficamos preocupados com infraestrutura e, na verdade, ela é o que deve ser imperceptível. Temos mesmo é que nos preocupar é com a produção de conteúdo e com a aplicação. Então acontece que a internet brasileira, nos lugares, lugares que chegam servem apenas par utilização de redes sociais e não para produção de conhecimento, de conteúdo.    

Quais os maiores desafios da Anid?

A nossa maior missão hoje é socializar conhecimento e o maior desafio é chegar nos lugares onde estão precisando desse conhecimento, bem como também é ver que uma pessoa que sempre morou em lugares de difícil acesso à tecnologia está precisando sair desse isolamento. Assim feito. as pessoas que lá habitam já começam se motivar e de repente, um ou outro deles que tem interesse de fazer um curso superior, já vai poder fazê-lo através da internet, nos cursos virtuais das universidades já existentes, como é o caso dos das universidades federais, que são tão bons como os cursos presenciais. Como também podem desenvolver ideias, ou seja, alguém que venda artesanato, os que tenham o dom para comunicação, também possa desenvolvê-lo, sem falar nos direitos de ter acesso à Comunicação, que é de suma importância para a igualdade na formação da sociedade do conhecimento.

Há quanto tempo o senhor está à frente da presidência da Anid e quais os principais avanços de sua gestão?

Estou à frente da Anid desde a sua fundação. Na realidade, o mandato de dirigente é de quatro anos e eu estou no meu segundo mandato, que segue até o próximo ano de 2015. E os nossos desafios e avanços foram a construção da Anid na sua base, respeitada dentro e fora do Brasil. Hoje por exemplo nossa rede chega a todas as cidades da Paraíba praticamente. Chega em estados Sergipe, Ceará, Bahia, também do Rio Grande do Sul e até a cidades como a Amazônia. E, para nós, ser uma entidade sem fins lucrativos que tem uma estrutura desse tamanho e que foi criada na Paraíba e que foi concebida sem apoio de governos, usando apenas a criatividade e basicamente a ajuda dos pequenos e micro empreendedores desses estados onde atuamos, temos orgulho dessa iniciativa. A Anid é o nosso principal fruto e eu não conheço nenhuma outra iniciativa, nenhum outro formato dessa dimensão nesse nosso segmento.    

Algo mais a acrescentar aos leitores do Paraíba Total?

O que eu gostaria de acrescentar é que as pessoas prestem mais atenção nos meninos e nas meninas da Paraíba e do Nordeste. Praticamente no potencial de cada um deles, que cada um tem de se desenvolver, que as pessoas pudessem a acreditar mais. Quando a gente vê que as escolas municipais da Paraíba por exemplo há aula de robótica e os alunos conseguem dar show, quando a gente percebe que os alunos vão para uma Olimpíada de Matemática e  se dão muito bem, apesar das baixas condições de ensino, dos professores mal remunerados e desmotivados, e  agente consegue ver que, com uma única internet instalada numa cidade de interior, um morador daquela cidade consegue terminar um bacharelado em matemática, por correspondência. Isso tudo se torna fantástico e faz com que essa iniciativas nos dê mais ânimo para os demais continuaram e ainda chamar atenção da autoridades para que venham contribuir para que a atividade possa ser olhada com olhos de empreendedorismo tecnológico e intercâmbio de conhecimento. A Paraíba, eu creio, que vai seguindo bem e tem potencial nesse sentido.