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“Como entidade, alertamos aos jornalistas que lidar com informações é preciso atuar com responsabilidade e seriedade”

29 de outubro de 2015

Resgatar o interesse do associado de participar das ações da entidade e “abrir as portas” da associação para atividades sociais, culturais, políticas e educativas paraibanas. Essas são algumas das principais metas da gestão do novo presidente da Associação Paraibana de Imprensa (API), o jornalista João Pinto, iniciada no último dia 11 de setembro e que terá uma duração de três anos.

Em entrevista exclusiva ao Paraíba Total, o sertanejo de Santana dos Garrotes-PB contou um pouco de sua trajetória acadêmica e profissional e ainda avaliou as dificuldades do mercado da Comunicação na Paraíba, os avanços e desafios da API e ainda a precarização do trabalho dos jornalistas após o Supremo Tribuna Federal (STF) ter abolido a exigência do diploma da categoria em todo o País.

“Sou defensor da exigência do diploma nas profissões. Até porque, para conseguir o meu diploma tive que estudar, trabalhar e ‘ralar’ muito. E sei o sacrifício também de tantas outras pessoas que assim como eu se esforçaram para buscar um conhecimento e uma técnica na universidade. Acho muita injusta essa decisão do STF e tenho certeza que esse erro será reparado”, afirmou o João Pinto, que além de outras duas gestões passadas frente à API, também foi presidente por duas vezes da Associação Campinense de Imprensa (ACI), ocupou cargos públicos como coordenador de Comunicação do Estado, colunista, assessor de imprensa, além de gerente de programação de rádios e diretor técnico e gerente de circulação de tradicionais jornais impressos em João Pessoa e Campina Grande.

Ele também destacou melhoria do mercado da comunicação, com a chegada dos portais e blogs de notícias, que segundo ele tem absorvido profissionais que se encontravam desempregados e/ou aqueles que querem ser autônomos e tocar seu próprio negócio. Veja como foi a conversa.

Quais serão as principais metas e diferenciais nessa sua nova fase à frente da entidade?

De fato, como eleito presidente da entidade, essa é a terceira vez. Mas, também já dei minha contribuição como vice de José Euflávio, que teve se ausentar para assumir um cargo de Comunicação na Prefeitura da Capital e eu assumi a presidência concluindo esse seu mandato. Em seguida, em 2003 eu realmente disputei a presidência com outro ex-presidente Carlos Aranha, onde fui eleito e presidi o triênio até 2006, que é o tempo de cada mandato. Em seguida, fui reeleito até 2009, quando logo na sequência elegemos Marcela Sitônio, que também foi reeleita em chapa única, do mesmo modo em que fomos agora reconduzidos à presidência da entidade. Na verdade, há doze anos não temos concorrência nessa disputa, pois nós conseguimos ‘costurar’ a unidade, para que a entidade possa crescer, evoluir. Então, depois de seis anos, fui novamente eleito, e tomamos posse no último dia 11 de setembro. E para os próximos seis anos de nossa gestão eu já sei em que precisamos trabalhar e buscar inovar junto á API, abrindo essa Casa para os movimentos sociais e trazendo os debates da sociedade para nossa entidade. Estamos aqui nesses primeiros meses com a agenda cheia. Dia 17 teremos já uma palestra dos 90 anos da coluna prestes na Paraíba, a ser realizado no mesmo dia pela manhã em Campina Grande, na UEPB  e à noite em João Pessoa, na UFPB.  Isso com debates e exposição do tema que estarão nessas duas cidades, a princípio, e em data ainda a ser marcada, no Vale do Piancó, onde a Coluna passou e teve um movimento muito grande, inclusive na cidade de Piancó. Vamos aproveitar também o terraço cultural, para fazermos sarau poético, buscando sempre os artistas da terra, para assim a movimentar, além de trazer seminários, discussões políticas, etc..

Como está o mercado jornalísticos do jornalista na Paraíba em meio à recessão econômica? Em que temos avançado ?

No geral, nós temos sim é avançado. Eu inclusive tenho dito que a imprensa da Paraíba e até preparada. Temos algumas dificuldades porque os veículos de comunicação são e sempre foram poucos no Estado, alguns chegando até fechar e com isso estreitando ainda mais nosso mercado local. Por isso, há uma grande importância de trazermos palestrantes de outros estados para nos mostrar aqui suas experiências e também vivenciarem as nossas e assim haver uma troca de experiências, uma verdadeira interação. Vamos trabalhar nesse sentido, em minha gestão. Outra coisa a ser feita, é incentivar uma reciclagem dos nossos profissionais que estão no mercado, bem como as empresas para que as mesmas possam dar condições para que eles se desenvolvam junto com as empresas.

E em relação ao crescimento do número de portais de notícias no Estado? 

Melhorou significativamente com a chegada dos portais. Há quem reclame da quantidade, mas quanto mais informação melhor, claro que quando a mesma seja de qualidade. E isso, com a internet e suas ferramentas tem só ganhado uma força. Outra coisa boa, que tenho visto, foi que muitas pessoas que estavam desempregadas, puderam abrir seus portais e hoje, inclusive nos interiores do nosso Estado passaram a viver desse meio, que hoje representam sua única ou principal renda. Agora, como entidade, aos jornalistas alertamos que lidar com informações é preciso atuar com muita responsabilidade e seriedade, agindo com imparcialidade, mesmo com o apoio dos parceiros e sem ser subserviente de pessoa A ou B.

O senhor acredita que a precarização da profissão de jornalista piorou depois que o STF aboliu a exigência do diploma?

Gosto de falar sobre esse tema. Pois, sou defensor da exigência do diploma nas profissões. Até porque, vim do interior pra estudar em Campina Grande, quando a Universidade Estadual da Paraíba, onde me formei, ainda não era pública, a antiga Universidade Regional do Nordeste (Urne). E para consegui meu diploma, eu tive que estudar, trabalhar e ‘ralar’ muito. E como na época, meus pais eram pobres e não podiam pagar meus estudos e também não tinha facilidades como hoje para se conseguir um crédito educativo, eu tive algumas vezes que trancar um semestre para trabalhar na roça para então no semestre seguinte pagar e voltar a estudar. E diante dessa luta, sei o sacrifício também de tantas outras pessoas que assim como eu se esforçaram para buscar um conhecimento e uma técnica na universidade, que é coroada com o diploma, que nos é entregue ao final do curso. E por isso, defendo sua exigência. E acho muita injusta essa decisão do STF e tenho certeza que esse erro seja reparado, já que não é justo que uma pessoa que tenha um curso rápido de duas horas consiga um registro de uma DRT e venha exercer sua função. Então, acho que prejudicou sim e eu tenho dito aos nossos sindicatos, que se preciso for, nós também iremos à Brasilia para buscar apoio da nossa bancada federal nessa luta de revalidar a exigência de nosso diploma. Exceto, para aqueles talentos que têm o direito adquirido, na década de 70, quando ainda não existia curso de Comunicação.

Houve há pouco tempo, muitas demissões nos principais veículos de comunicação da Paraíba. Como a API tem observado este movimento? 

No atual momento vejo que em todos os Estados não está nada fácil e aqui o mercado não poderia ser diferente. Principalmente, pois aqui é um estado pequeno do nordeste, que historicamente é uma região sofrida. Agora, em comparado aos últimos dez anos, posso dizer que até melhorou significativamente, inclusive com a chegada da internet, onde abriu, mas um canal de oportunidades, isso como a chegada dos portais, blogs de notícias, tudo isso fez com que compensassem a falta de oportunidades nas redações convencionais de rádio, tv e impresso, como já enfatizamos no início desta entrevista. Sem falar, que muitos viraram autônomos, empreendedores, alguns passaram inclusive de empregado para empregador, pois quando não atuam sozinho no seu portal ou blog, estão abrindo vagas para os colegas da área. E isso veio em uma boa hora em que os grandes veículos, a cada dia têm enxugado seus quadros, em função dos custos e dos altos impostos. E para os que ficam nesses veículos, cabe também se antenarem a acompanharem o ritmo dos veículos convencionais que também estão buscando acompanhar as evoluções tecnológicas e mercadológicas.

Como o senhor avalia o perfil da imprensa paraibana, que foca seus editoriais em programas de polícia e política, principalmente?

Vejo isso de forma natural. Pois, quando o veículo faz sua pesquisa de mercado e assim observa que quem mais vende é notícia política e/ou policial, certamente ele vai apostar nisso para ter sua rentabilidade assegurada. E é o que acontece aqui não só aqui no nosso Estado. E em minha experiência como gerente de circulação e venda de jornais tenho visto claramente esse fenômeno e o por que desse direcionamento dos nossos profissionais. E isso ocorre inclusive, não é pela nossa regionalidade, mas sim porque a mídia nacional tem pautando os veículos locais com essas temáticas e aqui tem um leitor, um telespectador que quer ver os desdobramentos dos fatos no cenário local, seja político ou policial.

Na sua ótica, quais foram os principais pontos de avanço da API nos últimos anos e em que aspectos a entidade precisa avançar?

O avanço da nossa entidade tem sido gradativamente e em vários setores. Isso porque, tudo vai se modernizando. Em 2000 eu pensava uma coisa e hoje em 2015 já vemos outras necessidades. Com o advento da internet ganharam outros rumos. E é claro que a cada gestor anterior deu sua contribuição em algum aspecto que veio melhorar nossa entidade seja no aspecto físico ou ações culturais. E como tinha dito, o que mais precisamos avançar é na cativação dos nossos associados que se encontram “sumidos”.

Além da sede na Capital, atualmente, a API tem delegacia de base em Campina Grande, Patos, Pombal, Sousa e Cajazeiras. Há projetos em sua gestão de expandir a entidade para outros municípios?

Nossa meta é sim de expandir, mas principalmente na assistência a essas áreas que já atuamos. Queremos levar novas delegacias de base para o Cariri e para o Brejo do Estado, onde temos uma potencialidade de rádios e jornais quinzenais, então trabalharemos nesse sentido.

Quais os benefícios e parcerias que a API hoje oferece aos seus associados ou que pode atrair novos?

Como se trata de uma associação, não temos as obrigações de um sindicato pelas convenções coletivas salarias, por exemplo, contudo, damos nosso apoio anualmente nesse pleito. Além de sermos um porta-voz junta a sociedade da integridade do nosso associado, ele também pode usufruir de convênios que já firmamos com a Faculdade Maurício de Nassau, com a Aliança Francesa, com o Sesc, com alguns restaurantes, além de dispormos da área cultural e uma parceria com o mercado e a academia, pra também trazermos de volta essa participação na entidade. E os estudantes, eles quem vem nos substituir num futuro próprio e mostrando a todos eles que devemos sempre viver em harmonia com os demais poderes, agora respeitado e sem submissão a nenhum outro poder, até porque somos considerados um quarto poder na sociedade.