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“O setor de eventos é uma transformação permanente, não podemos fazer eventos como há 30 anos”

6 de setembro de 2016

Banners aéreos em tempos de conexão aos tablets e smartphones. Palestras com duas horas de duração em sala de aula em tempos de acesso a todo e qualquer tipo de informação via internet. Os tempos mudaram – e o setor de eventos também precisa acompanhar esta mudança. Esta é a visão da consultora gaúcha Vaniza Schuler, mestre e Bacharel em Turismo, especialista em Relações e Negócios Internacionais e também  em Consultoria Turística. A consultora esteve recentemente palestrando em Campina Grande para um grupo de empresários e falou sobre a importância de o segmento acompanhar as mudanças sociais e comportamentais de quem participa de eventos.

Vaniza Schuler viaja o mundo para proferir palestras e realizar treinamentos e avaliou a Paraíba. “Nós temos uma boa gama de serviços, mas essa informação não está estruturada de acordo com a qualidade exigida pelo mercado, principalmente dos eventos profissionais”, comentou. 

Ela esteve em Campina Grande a convite da Prefeitura e conversou com o Paraíba Total.

Qual foi o motivo da sua vinda à Paraíba e qual é a sua participação no Fórum?

O motivo maior da minha vinda foi para dar continuidade ao projeto de estruturação da cadeia produtiva de eventos, que é um projeto da Secretaria Municipal de Turismo local de Campina Grande, do Sebrae e do Convention Bureaux  para profissionalizarmos o setor de eventos no Estado. Nós temos uma boa gama de serviços, mas essa informação não está estruturada de acordo com a qualidade exigida pelo mercado, principalmente dos eventos profissionais.  Os eventos pessoais eu também percebo que está havendo um crescente de exigências. Mas os profissionais são muito rígidos, e a informação que a gente hoje dispõe e por eles serem quase 70% do percentual dos eventos totais. E a gente perde muito, muitas oportunidades, se isso não estiver bem organizado. Todo isso dentro de programa de capacitação e sensibilização do empresariado local, porque se trata de um verdadeiro ‘trabalho de formiguinha’.     

A Paraíba está “atrasada” em relação aos outros estados brasileiros, no tocante à busca de conhecimento e à busca de capacitação dos profissionais que lidam com turismo e eventos?

Eu trabalho praticamente em todo o Brasil. Só não tenho ainda clientes na região Norte do País. E às vezes eu fico muito triste porque a gente prepara uma palestra com informações que têm que ser inéditas e que poderia mudar a forma de atuação, mostrar os benefícios de negócios. Tentamos fazer as coisas mais didáticas possíveis e, infelizmente, a participação dos empresários ainda é muito baixa. Isso de alguma maneira, se atrasam muito os processos, e a Paraíba não está tão distante disso. Não temos cases iguais no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina,  no Paraná. O que eu percebo é que é uma cultura nacional. Por exemplo, nós não contratamos pesquisa, nós lançamos produtos, marcas, com base apenas nos que achamos, ou seja, não existe uma preocupação de conhecer bem o mercado. Nós também não temos indicadores, nós não ligamos para informações precisas.  Em alguns casos, vemos um centro de eventos sendo inaugurado e sem sequer uma página do mesmo na web. E em muitos casos quando tem agenda, não tem o contato ou não tem o folder. Mas isso também acontece demais na hotelaria. Infelizmente, o que vemos é que é algo mesmo cultural, essa forma de querer trabalhar de forma autodidata, intuitiva e muito pouco mercadológica. 

A crise econômica atingiu muito o setor de evento?

Sim, bastante. Nos eventos corporativos foram bem afetados. Eles dependem basicamente dos patrocínios das empresas e foram encontrando soluções mais simples. Viagens com menos tempo, refeições mais baratas, e assim, vão se ajustando. No caso de grandes eventos como congressos e grandes encontros, esses sim, que precisam acontecer, o que ocorre é que se encolhem alguns orçamentos menores, com cotas menores de patrocínio. 

Qual a importância de saber como captar um destino para a realização de um evento?

Eu acho que primeiro temos que ter o entendimento de quer toda captação de evento é única. Que é um processo todo sob medida e não um processo de recortar e colar.  Porque um congresso feito para enfermeiras, por exemplo, não é nunca o mesmo para profissionais da matemática. São valores diferentes e uma forma de conceber o evento diferente. Cada setor, cada área tem o seu valor, suas prioridades, e isso raramente é levado em consideração. O que se vê é a tentativa de se fazer um modelo meio que padrão, uma coisa pré-fabricada e sem essa fidelização. Existe também pouco conhecimento sobre processo de captação de eventos, e é um tema bem obscuro. Nós temos pouquíssima literatura sobre esse assunto. Alguns conventions até fazem iniciativas de cursos de captação, porque quanto mais gente estiver captando, melhor, pois se potencializa do destino. Ao mesmo tempo, tem gente que tem essa informação, mas que não quer compartilhar como se aquilo fosse “um tesouro”. Isso é absolutamente condenável. 

Quais as principais mudanças que a senhora pode apontar dos eventos passados com os atuais?

Bom, sistematizando em termos de estrutura, eu não concebo, ou seja eu não tenho mais tolerância para ficar em uma sala fechada sem janela. Eu acho que precisamos respirar, ver uma área verde, ver a luz do dia. É desinteressante sermos bombardeados de muita informação dentro de uma parede branca, que passa um ar de tortura. Hoje as salas não precisam ter mais esse antigo conceito arquitetônico moderno e, sim, ter aconchego.  No tocante ao tempo, também não se tolera mais volume de informação. Recebemos a todo tempo, as palestras de uma hora não são mais interessantes, as de meia hora já são suficiente. As apresentações não precisam ter textos e sim de imagens, livros, amplas leituras ficam para o palestrante ler, pois a palestra não é o momento de se dar informações e sim de se provocar questionamentos nas pessoas. Temos que atrair com outros recursos, tipo cheiro, som, carregador para os conectados, e claro ter tempo livre para as pessoas participarem mais das atividades sociais e de se integrarem, porque o que hoje se procura é interação, contato, espaços alternativos. O setor de eventos é uma transformação permanente, não podemos fazer eventos como há 30 anos.