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“Precisamos fazer com que nossa cachaça seja vista não apenas como uma bebida, mas sim como fonte de produção de riquezas e de trabalho” 

3 de maio de 2017

No próximo dia 17 deste mês de maio, às 20h, a Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaça de Alambique (Aspeca), em co-realização com o Governo do Estado, lançará no Teatro Paulo Pontes, a Carta das Cachaças da Paraíba, com uma homenagem a artistas paraibanos e pernambucanos que sempre enalteceram a bebida genuinamente brasileira em suas obras. 

O objetivo da produção a ser lançada, é divulgar as cachaças da Paraíba nos bares e restaurantes locais e também em cachaçarias todo o país e ainda identificar as melhores cachaças produzidas no Estado, em diversas regiões e o seu processo produtivo, visto que a Paraíba é o maior produtor de cachaça de alambique do país, ou seja, são cerca de 12 milhões de litros produzidos por ano. 

E para sabermos mais detalhes da solenidade de lançamento da Carta, que ainda enaltecerá o setor canavieiro, um dos setores que mais emprega na Paraíba e no país, e é a única cultura que, mesmo durante a seca, fixa o homem à terra, o Paraíba total conversou com exclusividade o idealizador e executor da Carta,Vicente Otávio Neves Lemos, que também preside a Aspeca. 

“Essa carta é um instrumento de divulgação da produção de 19 engenhos, e traz a história da bebida no Brasil, a história dos engenhos paraibanos e como utilizar a cachaça com harmonização”, disse Vicente, que é natural de João Pessoa, Vicente também é fundador da Agro Industrial Lagoa Verde há 36 anos, além de administrador de empresas, com especialidade em Marketing,  produtor da cachaça Volúpia e responsável pela quinta geração de produtores da família Lemos.

Confira os demais trechos da entrevista:

O que mais te motivou a idealizar e lançar essa carta e qual a importância dela para setor produtivo da cachaça na Paraíba?

O que me motivou foi a necessidade de divulgação das nossas cachaças paraibanas de alambique nos bares, restaurantes e hotéis. Divulgar como ela é produzida, onde, qual região da Paraíba. A ideia não foi minha, mas estou dando andamento, a nível de Brasil – já que temos três cartas de cachaças, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. A nossa será a quarta. Quando o cliente estiver em um restaurante, um barzinho ou hotel e necessitar ter conhecimento de onde vem aquela cachaça, saber sobre a história da cachaça no Brasil e na Paraíba, ele terá tudo isso. A nossa Carta das Cachaças está bem completa. A parte histórica foi escrita pelo jornalista Gonzaga Rodrigues.

Como foi realizada a produção da carta?

A produção da Carta contou com uma equipe formada pelo cronista Gonzaga Rodrigues, que escreveu sobre a história da cachaça no Brasil e na Paraíba, textos da jornalista Rosa Aguiar que descreveu sobre os 19 engenhos, fotografia de Cácio Murilo, análise sensorial dos rótulos apresentados por Jairo Martins, projeto gráfico de Sergio Sombra e coordenação e assessoria de Marise Barreto e coordenação geral de Vicente Lemos e Múcio Fernandes. 

Os tradutores de inglês e espanhol foram Alyssandra Negri e Douglas Ramos, respectivamente, e a revisão de Denise Barreto Rocha Sampaio. A confecção foi da Gráfica JB. A produção teve o patrocínio do Sebrae PB, da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, Faepa e apoio da Softcom, DR Alambiques, Thalls Indústria Metálica, Zeta Embalagens, Net Eventos, Abrasel e ABIH.

Fale um pouco da evolução da cachaça que completou 500 anos de sua criação. E de que forma ela tem contribuído para o desenvolvimento da economia do nosso Estado, ou seja, qual o seu impacto econômico?

Como todo brasileiro tem conhecimento, a cachaça é a bebida genuinamente brasileira. Em 2000, durante as festividades dos quinhentos anos de descobrimento, foi feita uma grande festa em Salvador, na Bahia, com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso, e tudo promovido em cima da cachaça. É uma bebida antiga, mas nova no nosso mercado. Ela vem quebrando todos os tabus e preconceitos. Desde o início até hoje, vem evoluindo muito com uma mudança na cultura. A contribuição da cachaça para o desenvolvimento do nosso Estado é muito grande e valorosa. A Paraíba é o maior produtor de cachaça de alambique do país, e como os tributos são muito altos, gera recursos tanto para o governo estadual quanto federal, tem ganhado muito em cima de nossas vendas e contribuições e pouco é revertido. O governo não deveria ver o setor como fabricante de bebida, mas como de fundamental importância para a fixação do homem no campo. É um segmento que traz muitos empregos diretos e indiretos, abrange os setores primário, secundário e terciário, e deveria ser mais bem visto pelos órgãos governamentais. 

Como anda em números a produção (litros, alambiques, engenhos, etc.), venda no mercado interno e exportação dessa bebida genuinamente brasileira, que conquistou inovação, qualidade e espaço nos negócios dentro e fora do País?

A nossa produção está em torno de 12 milhões de litros por safra. Na nossa Associação são registrados 22 engenhos, todos com venda no mercado interno da Paraíba e de outros Estados. Atualmente apenas um engenho exporta cachaça. É um problema devido à falta de conhecimento da cachaça no mercado internacional. Deveria haver uma propaganda para que a cachaça fosse mais conhecida para estimular a exportação.

Do seu ponto de vista, em que mais evoluiu a nossa cachaça nos últimos tempos?

A evolução veio de estudos laboratoriais nas universidades, e começaram na década de 1980 Tem tido muito estudo na qualidade; a cachaça tinha 150 componentes, hoje são mais de 300. É uma bebida que não deixa nada a desejar na qualidade. E também houve uma evolução na apresentação, nas embalagens. É uma bebida que pode ser servida em todos os ambientes, em qualquer restaurante do mundo. O boom da cachaça aconteceu no ano 2000, e de lá para cá estamos vendo uma evolução muito rápida.

Qual é o maior público consumidor da cachaça na Paraíba atualmente? E como a bebida tem inovado para atender o público com o paladar mais exigente, quebrando paradigmas?

O público consumidor é o masculino e o feminino nas classes A,B e C. Na classe A e B temos um consumo moderado e um pouco exagerado na classe C. Os produtores tem a preocupação de sempre orientar os consumidores quanto a quantidade de doses diárias. A qualidade e a apresentação das cachaças está excelente, dai a grande aceitação do público mais exigente.

Como anda a aceitação por parte do público feminino, que antes tinha um certo preconceito de apreciar a bebida?

Acredito que o público feminino até já passou o masculino na preferência pela cachaça. Está tendo uma boa aceitação no público feminino, já que a graduação da cachaça pode ir de 38 a 48 graus. É comum a gente ver num bar ou restaurante mulheres de 18 a 70 anos apreciando uma boa cachaça com uma boa conversa.

Quais são hoje os principais gargalos do segmento produtivo na Paraíba e como a Associação de Produtores de Cachaça de Alambique tem atuado para ajudar a enfrenta-los?

O principal gargalo hoje é a carga tributária e a seca. A cada safra a gente vem perdendo cerca de 20 a 25% da nossa safra por causa da seca. E ai vem também o aumento da carga tributária, um governo desequilibrado, e o setor passa por dificuldades. Mas acredito que a partir de 2018, com mudanças anunciadas na tributação no seguimento, vai melhorar e evoluir bastante, e vai dá para tirar um pouco do prejuízo dos anos anteriores.

Há quanto tempo existe, qual a missão da Associação e como se dá a sua composição?

A Associação dos Engenhos Produtores de Cachaça de Alambique, Aspeca, existe há 27 anos e foi criada com a missão de agregar todos os produtores de cachaça da Paraíba. Durante este tempo vem trabalhando com engenhos que já existiam e os novos que estão abrindo. A Aspeca é composta do presidente e vice, diretor financeiro, secretário e conselho fiscal. A Associação é muito importante não só pelo associativismo, mas para mobilizar sobre fiscalização, orientação e planejamento com cursos e exposições.

Quantos associados existem no Estado e quais os critérios para integrar?

Nosso quadro é formado por 22 associados e para participar é necessário que o engenho seja legalizado e o produto estar registrado no Ministério da Agricultura e com todos os documentos válidos em dia.

Desde quando o senhor está à frente da entidade e quais os diferenciais de sua gestão?

Eu estou no terceiro mandato, que vem sendo esticado pelos associados. Foram três mandatos. Vou entregar a Carta das Cachaças da Paraíba, que será o meu último trabalho nessa gestão. Espero que a nova diretoria que vai ser eleita dê continuidade a esse trabalho da Carta que apenas começou. O diferencial da minha gestão foi a inovação. No primeiro mandato criei um informativo com todos os assuntos de interesse do setor. Também fiz a solicitação de isenção de 80% do ICMS que foi dado no ano de 2000 – são 17 anos com essa isenção. Tenho tentado mobilizar todo o setor O gargalo mais difícil que encontrei foi trabalhar com pensamentos diferentes, mas isso é normal. Já existe gente nova que pode levar a Associação com braço forte e guerreiro.

Algo mais a acrescentar aos leitores do Paraíba Total?

A mensagem que eu queria deixar é que os leitores não vissem a cachaça só como uma bebida, mas sim como uma fonte de produção de riqueza, de trabalho humano, do trabalho local. 80% dos funcionários do setor são do meio rural, que é tão esquecido. Estamos de braços abertos. Muitos engenhos recebem visitantes para mostrar como realmente é produzida a boa cachaça paraibana Agradeço a oportunidade de falar sobre tudo isso ao Portal Paraíba Total.