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“O papel do homem no feminismo é respeitar e reconhecer o potencial da mulher na sociedade”

16 de maio de 2019

Um dos maiores desafios das mulheres na luta pela igualdade de gênero é a desconstrução do machismo, que pode ser facilmente identificado nas pequenas ações do dia a dia. Segundo a pesquisa do Instituto Avon/Locomotiva sobre o papel do homem na desconstrução do machismo, realizada em 2016, a desigualdade de gênero pode ser observada com clareza e a maioria da população se declara contrária a esta realidade. De acordo com os dados, cerca de 88% dos entrevistados acreditam que há desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade e 84% afirmam que todos devem lutar por um mundo menos machista. Porém, na prática, parte da população ainda defende costumes que sustentam a desigualdade.

Neste cenário, criado pela ONU Mulheres, a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, o movimento ElesPorElas (HeForShe) é um esforço global para envolver homens na desconstrução de barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar homens e mulheres a modelarem juntos uma nova sociedade. O alcance da igualdade de gênero deve ter uma abordagem inclusiva, que reconheça o papel fundamental de homens como parceiros dos direitos das mulheres.

É com este propósito de minimizar os efeitos da desigualdade de gênero na sociedade, lutar por direitos iguais entre homens e mulheres e apoiar o empoderamento e empreendedorismo feminino, de maneira inovadora e acessível, a Be.labs Aceleradora apoia mulheres no desenvolvimento e aceleração de novas ideias e negócios. Para ChristianFujiy, co-fundador da Be.labs, quando a mulher tem consciência da sua capacidade, ela assume com autonomia o propósito da vida e constrói iniciativas que mudam a realidade para melhor. “O nosso propósito é fazer com que as mulheres tenham voz ativa e estejam prontas para gerar mudanças e trazer inovação para a sociedade por meio do seu olhar diverso e inclusivo”, afirmou.

Em entrevista, Christian  falou um pouco mais sobre o papel dos homens da luta pela igualdade de gênero, a empatia dos homens nas causas feministas e iniciativas que podem ser colocadas em prática para começar a mudar a realidade e o desenvolvimento das mulheres no mercado de trabalho.

Aos poucos, os homens estão criando certa empatia às causas femininas. De “He for She”, da ONU, até iniciativas mais próximas à nós, você também observa este movimento? Qual sua leitura sobre isso?

O movimento de equidade entre gêneros,  por muitas vezes, foi confundido como um movimento de ódio aos homens e isso é algo inconcebível nos dias atuais, afinal, não existem apenas mulheres no mundo e a aliança de homens e mulheres é fundamental nessa luta. No meu entender, o movimento HeforShe acontece para promover a mudança cultural e social com o apoio da força das mídias sociais que extrapolaram as fronteiras digitais. Afinal, se todos se apoiarem, teremos um mundocom muito mais possibilidades e oportunidades para todos. Acredito que se cada um fizer sua parte, fomentando as chamadas micro revoluções diárias, reportando casos de discriminação de gêneros, exigindo oportunidades iguais, dizendo um simples não a piadas machistas e compartilhando de maneira mais justa os deveres familiares, certamente criaremos um mundo mais igualitário ou onde pelos menos as diferenças sejam aceitas e respeitadas. O HeforShe vem contribuir para essa inserção do homem dentro das causas femininas, mas sempre respeitando o protagonismo da mulher no movimento feminista. Como disse a atriz Emma Watsonm, conhecida por interpretar Hermione na saga Harry Potter, no seu famoso discurso de 2014: “De um passo adiante, se mostre, se expresse. E se pergunte: se eu não posso, quem pode? Se não é agora, quando será?

Você já morou na Suécia e visitou mais de 50 países – e o Brasil tem índices vergonhosos de desigualdade de gênero. As brasileiras ainda estão muito atrasadas também em relação ao mindset delas, sobre o real empoderamento? Como começar a mudar essa realidade?

Combinação de mindset, políticas anti discriminatórias, aspectos culturais e históricos, educação, suporte estatal e privado no combate a desigualdade de gêneros acabam gerando essas disparidades de gênero. Podemos citar os países mais igualitários do mundo como Finlândia, Islândia e Suécia, países no topo do ranking social e econômico, cujos indicadores sociais e políticos podem desencorajar a comparação com o Brasil. Porém, como explicar que Ruwanda e Filipinas,  países em desenvolvimento que encaram sérios problemas sociais e econômicos, sejam sociedades exemplos na luta pela equidade de gêneros? Rwanda, tem o parlamento mais feminino do planeta, além de terem incluído os direito das mulheres na constituição do país. O simples fato de educar e criar uma abertura para discussão ampla na sociedade,  como estamos vendo cada vez mais no Brasil,  pode ter grande impacto nas mudanças. E a forma que encontramos de ajudar na transformação dessa realidade é fortalecendo o empoderamento feminino por meio do empreendedorismo.

Na prática, o que deve ser feito para que os homens tenham mais empatia, principalmente em se tratando do mundo do trabalho e do mercado?

O fato de reconhecer que muitos dos negócios liderados por mulheres possuem maior rentabilidade e que a tendência do equilíbrio de gêneros dentro das empresas já é uma tendência mundial podem estimular os homens a  fomentar o respeito e reconhecimento delas dentro das empresas.

Como a Be.labs trabalha o desenvolvimento das mulheres e de seus negócios?

Entendemos que empreendedorismo é, acima de tudo, uma jornada de autoconhecimento e que, quando uma mulher tem consciência da sua capacidade, ela assume com autonomia o rumo de sua  vida e constrói iniciativas que mudam realidades para melhor. Portanto, a Be.Labs, por meio de um programa de pré aceleração, ajuda as mulheres a se conhecer e se desenvolverem como empreendedoras, trabalhamos com ferramentas para ajudar na formatação da sua empresa e workshops para mudança de mindset. Ao final desse programa, as participantes serão vozes ativas aptas a gerar mudanças e trazer inovação para o mundo através de um olhar diverso.

Como tem sido esses primeiros meses mentorando/ acelerando empresas lideradas por elas? Quais as principais observações e curiosidades ?

Esses primeiros meses foram de muito aprendizado, prospecção e estruturação da Be.Labs. Tivemos a oportunidade de conhecer empreendedoras fantásticas de todo o Brasil com realidades totalmente distintas.  Conhecemos histórias de empreendedoras querendo realmente fazer a diferença,  mas sem suporte e conhecimento para começar seus negócios, e outras mulheres incríveis como uma das nossas aceleradas que possuía um cargo estável no governo, mas tinha o sonho de empreender, recém soubemos que o negocio que ajudamos  a estruturar a possibilitou sair do emprego estável e se dedicar 100% ao novo negócio.

Em relação à oportunidades, o que as empresas e o poder público devem fazer para diminuir ou acabar com as diferenças, sem precisar entrar na via “paternalisma”, “populista”ou “conscentista” demais?

Criar ambientes saudáveis e equilibrados,  criar políticas internas anti-discriminatórias,  promover o debate aberto da importância desse equilíbrio,  dar exemplos práticos dos benefícios (aumento da produtividade e rentabilidade) quando as mulheres assumem mais postos de liderança e acima de tudo respeitar as diferenças.