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“O empreendedorismo precisa estar na veia dos novos artistas, com muita pesquisa e estudo, buscando a qualificação”

29 de maio de 2019

“Cantoura”, “cantautora” e “cantriz”, como ela mesma se define, a paraibana Nathalia Bellar vivencia um momento de transição em sua carreira. Após a aclamação do público e dos jurados no The Voice Brasil, a artista tem dedicado o primeiro semestre de 2019 à divulgação de seu trabalho solo, realizando shows emocionantes como “Elis Vive”, no Tambaú Hotel, e a avant-premiére exclusiva de seu primeiro álbum para convidados seletos, no HUB 360 e na Bodega Café, além de performances à convite por todo o País.

Com previsão de lançamento para o segundo semestre, o disco “Catavento” é fruto de uma estrada de 10 anos, propondo ao público a união da ancestralidade nordestina com a suavidade moderna da música brasileira contemporânea. Para a finalização e custeamento das despesas referentes ao álbum, Nathalia lançou na internet sua primeira campanha de crowdfunding, método de financiamento coletivo em que o público pode contribuir diretamente para a concretização do projeto, auxiliando financeiramente a partir de plataformas online. A campanha foi um sucesso – e a artista conseguiu recursos por meio do financiamento. 

Analisando a experiência e o viés empreendedor dos bastidores musicais, a artista comenta sua visão acerca do mercado empresarial e das necessidades atuais dos músicos na entrevista que segue.

Para você, como o artista deve apresentar o seu produto para patrocinadores ou empresários em potencial?

Eu acredito que o artista deve ter sempre uma ideia muito concisa em relação ao seu produto, e procurar uma conexão para apresentar isso aos empresários. Nós sabemos que existem benefícios fiscais para as empresas quando elas apoiam projetos culturais, podendo ser uma via de mão dupla. O interessante é justamente isso, identificar como o seu produto pode combinar com a empresa.

Como você enxerga o cenário atual para os artistas independentes e a necessidade de patrocinadores?

Estamos passando por um processo muito delicado de mudanças em nosso país. Mudanças econômicas e no fazer político, e é claro que a arte acompanha isso. Para o artista independente, é um caminho muito árduo e frágil, porque sabemos que existe um mainstream, o mercado da música é dominado por ele, onde estão contidos aí o funk, o forró, a música sertaneja e segmentos como o rock e reggae, e acabamos vivendo à margem disso. Então nós, artistas independentes, estamos cada vez mais compreendendo a importância da coletividade, vendo a necessidade de nos conectarmos um aos outros e criar uma grande rede, para que haja firmeza e concisão em nosso trabalho, podendo assim atrair patrocinadores, porque necessitamos sim da participação deles. Esse fortalecimento do trabalho só vem através do coletivo.

Quais estratégias de comercialização você indica para os novos artistas que querem vender seus trabalhos?

A internet é a melhor aliada do artista, nossa melhor ferramenta de divulgação, onde nós podemos realmente explicitar o nosso trabalho de forma gratuita ou por valores mais acessíveis. Desde o audiovisual, com a ferramente campeã de visualizações, o YouTube, ou plataformas de streaming. Hoje o consumo de discos físicos é muito baixo, marcada por uma geração mais saudosa, retrô, mesmo com essa volta do vinil. Os novos artistas precisam compreender, primeiramente, que existe uma necessidade de se qualificar, compreender o funcionamento dessas plataformas, desde o facebook ao instagram, twitter e spotify, porque os velhos tempos em que só subíamos no palco e a gravadora cuidava de tudo já se foram. Temos que assumir o conhecimento de várias etapas, esse é o artista independente moderno.

É necessário, para o desenvolvimento do artista, possuir um viés empreendedor?

Absolutamente. Estamos vendo alguns exemplos de artistas empreendedores que estão fortalecendo o seu mercado, à exemplo de César Menotti e Fabiano na indústria sertaneja, que são empresários de outras duplas, e também a Anitta, que como mulher empreendedora possui um trabalho extremamente forte e de muita qualificação. Então, o artista hoje precisa compreender que ele tem que ser um pouco empreendedor, conhecer os processos de modo geral, para que ele possa ao mínimo direcionar. O empreendedorismo precisa mesmo estar na veia dos novos artistas, isso através de pesquisas, de estudo, para que ele possa ter o know-how. Então é muito interessante que dediquemos um pouco de tempo a esse aprendizado.

Qual a maior lição que você acredita ter tirado da sua experiência com o crowdfunding?

Foram muitas lições. Saio desse financiamento coletivo extremamente satisfeita, mas acho que as maiores que pude aprender foi a de que uma artista como eu, que trabalha com a diversidade da MPB, a miscigenação que é a nossa música, tem obviamente essa diversidade de público, e o financiamento coletivo te conecta de forma muito individual com essas pessoas. Pude perceber os anseios e a necessidade de cada um desses públicos, assim eu posso criar estratégias que possam agradar a cada um deles, criar um produto que possa realmente se aproximar, porque eu tenho essa característica de ser muito versátil, de ter saído dos bares e ter esse público que já me acompanhava neles e que agora começa a consumir o meu trabalho autoral. Uma outra lição foi a de que sem o público, o artista não é nada. Existem artistas que chegam em um patamar e se colocam em uma posição intocável, quando na verdade ele precisa estar de pés no chão, pele na pele, porque somente através do público ele consegue atingir as metas nele. Então o financiamento coletivo humaniza mais esse processo.