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Brechós invadem redes sociais e faturam até R$ 100 mil por mês

24 de outubro de 2014

Que mulher nunca sonhou em possuir bolsas ou sapatos de grifes mundialmente famosas? O preço do luxo, porém, não é para qualquer bolso. Ou pelo menos não era, até o surgimento dos brechós virtuais, que vendem peças seminovas – algumas usadas apenas uma ou duas vezes – por até 50% menos que os valores cobrados nas lojas. O sucesso é tão grande nas redes sociais que o empreendimento chega a render um faturamento de até R$ 100 mil por mês.

O perfil de quem adquire e de quem vende estes protudos através da internet é jovem – entre 25 e 35 anos – e feminino, em sua maioria, afirma o presidente do Reclame Aqui, canal que intermedia consumidores insatisfeitos e comerciantes que ofereceram o serviço ou o produto. “É uma tendência de e-commerce. São peças caríssimas, que são usadas uma ou duas vezes. Esse é um mercado muito novo. E é um mercado com empreendedores jovens”, analisou Maurício Vargas.

“O que eu acho bacana nesse novo tipo de comércio é que o luxo se tornou mais acessível, e que as pessoas podem estar sempre trocando, variando e reciclando os produtos. Você não fica mais usando a mesma bolsa por anos a fio. O seu guarda-roupa ficou mais dinâmico”, contou a advogada de 35 anos, Helena Cavalcanti, que já comprou óculos, bolsas e também já vendeu uma bolsa através de brechó virtual.

Redes sociais

Um dos principais canais de venda dessas mercadorias é o Instagram – rede social de compartilhamento de fotos – e segundo 100% das empreendedoras que o G1 entrevistou, o canal é “um grande facilitador”. Para parte delas, “é o melhor veículo de divulgação”. De acordo com a carioca Cintia Lucas, de 34 anos, – que está há 7 em São Paulo – o canal é responsável por 40% das vendas. “O restante vem de clientes que compram novamente e de investimentos em anúncios”, disse a dona do Modificando Brechó, que possui 11 mil seguidores.

Segundo a empreendedora de Goiânia Maísa Zica, de 33 anos, a grande vantagem da rede social é que “ali não temos custo algum e conseguimos atingir o cliente que realmente tem interesse nos nossos produtos”, explicou a proprietária do Desapego do Luxo, que possui 13 mil seguidores. Para a garantir a qualidade dos itens, “é feita uma curadoria (…) escolho a dedo o que quero que entre”, afirmou Maísa.

Para as idealizadoras e responsáveis pelo BagMe.com.br – que possui 33 mil seguidores, um site na internet e trabalha ainda com o aluguel de peças –, Elisa Melecchi e Luiza Nolasco, ambas de 29 anos e do Rio de Janeiro, a vantagem do Instagram é que “antes ficávamos à mercê de grandes anunciantes da internet, como do Google Ads e Facebook Ads [canais de publicidade desses sites]”.

“Mas desde que houve a popularização do Instagram, mudamos o plano de marketing, passando a gastar bem menos com mídia online e hoje contamos muito com o engajamento do Instagram para crescer e vender cada vez mais”, completou Elisa.

Há ainda brechós que trabalham com produtos consignados. Neste caso, quem deseja se desfazer de um produto deixa sob a responsabilidade do brechó, que faz a venda e cobra para isso uma porcentagem sobre o valor da mercadoria, contaram as sócias Gabriela Salles e Any Koplin. “Não investimos em peças”, afirmou Gabriela, uma das donas do Let It Go Brechó.

Bolsa de 70 mil dólares

O valor do item depende da marca, do modelo, de quão raro é o produto, e seu estado de conservação, mas tem como base o valor de mercado. “Já vendi uma Birkin da Hermès [grife francesa fundada em 1837] por R$ 28 mil. Na loja, custa cerca de R$ 42 mil”, contou Maísa, do Desapego do Luxo, explicando que esse foi o item mais valioso que já vendeu até a publicação dessa reportagem.

Elisa Melecchi, da BagMe, explicou que a bolsa da Hèrmes é “superexclusiva” e “tem lista de espera para comprar nas lojas”. “As mais básicas custam a partir de 10 mil dólares, mas podem chegar até a 70 mil dólares. O item mais caro que tivemos foi uma bolsa Birkin da Hermès, que foi vendida na semana passada por R$ 14 mil”, disse a empresária.

Fraudes e golpes na web

A aquisição de produtos de grifes internacionais pode, no entanto, tornar-se um problema. “Quando existe fraude, é porque a bolsa Louis Vuitton [maison francesa especializada em malas e bolsas] era falsificada. Mas nós percebemos uma coisa bem interessante nas análises dessas lojas: são empreendedores jovens e honestos, mas sem muita experiência do mercado. Então, eles pecam na emissão de notas, e na entrega”, salientou Maurício Vargas.

Tanto empreendedores em busca do objeto de desejo de seus clientes quanto compradores dessas peças estão sujeitos a golpes na internet. “Nós encontramos um suposto brechó no Nordeste que tinha uma bolsa Céline [grife francesa fundada em 1945 por Céline Vipiana] que adoramos e estava um valor muito bom. Porém, a bolsa nunca chegou e a pessoa que estava vendendo sumiu, trocou o nome do Instagram e nunca mais respondeu. Ou seja, tomamos um golpe de R$ 3 mil. Demos queixa na polícia com o nome e CPF da pessoa que depositamos, mas nada aconteceu”, relatou Elisa.

Dicas de especialistas

Para Maurício Vargas, as “furadas” são as mesmas do e-commerce em geral. “Mas devem tomar muito mais cuidado porque é material usado”, ressaltou. “A grande dica é sempre ver a reputação da empresa antes de comprar. Como se faz isso? Pesquisando no Facebook, Google, vendo comentários, se vendem muito pelo Facebook ou Instagram, e lendo todos os comentários dessas lojas”.

O consultor sênior de e-commerce Marco Junior, que atua há 19 anos no mercado nacional e internacional, ensinou a melhor forma de realizar a busca na internet. “Experimente digitar o nome do brechó junto com a palavra ‘reclamação’ no Google. Exemplo: Brechó da Maria Reclamação, e analise a quantidade e o teor das reclamações”.

“Mas a dica mais valiosa é dar preferência para os brechós que operam com intermediadores de pagamento como PayPal, B-Cash, PagSeguro, entre outros, e claramente: evitando depósitos antecipados na conta corrente da vendedora ou do vendedor. Com um intermediador de pagamentos, o cliente poderá enviar uma reclamação se tiver qualquer tipo de problema com o produto”, garantiu.