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Projeto da UEPB mostra poder de nutrição de palmas forrageira e utilidade na fabricação de produtos

28 de novembro de 2014

Muitos produtores nordestinos ainda imaginam que a palma forrageira pode ser utilizada apenas como suporte alimentar para os animais no período de seca. Só que a planta, típica de regiões desérticas e famosa por armazenar uma grande quantidade de água, tem múltiplas funções e se explorada corretamente possui recursos para impulsionar toda uma cadeia alimentar.

Um projeto desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Centro de Ciências Humanas e Agrárias (CCHA), no Campus de Catolé do Rocha, tem mostrado a valor nutritivo da palma e como ela pode revolucionar a economia da região. Hortaliça de deserto riquíssima e caracterizada por dispor de alto poder de digestão, a planta pode ser transformada em solução para o sertanejo que ainda sofre com os efeitos dos fenômenos climáticos.

Coordenada pelo professor Alcides Almeida Ferreira, a pesquisa iniciada em 2007 já rendeu frutos. Os estudos realizados em um campo experimental da Escola do Cajueiro revelaram que a palma pode ser usada não apenas como suporte forrageiro, mas como matéria-prima que dá origem a produtos como picolé, sorvete, doces, sucos, cosméticos, licor e até a cachaça genuinamente nordestina.

Os produtos fabricados a partir das técnicas ensinadas por estudantes da UEPB, na unidade experimental montada no Campus IV, já foram comercializados em várias feiras e mostras da Paraíba. A produção, no entanto, ainda é pequena e visa apenas mostrar aos pequenos produtores que eles podem fabricar os produtos em suas propriedades e, assim, garantir uma renda própria a partir de uma planta de fácil adaptação ao semiárido.

“A palma é uma hortaliça de deserto que pode também servir para a alimentação humana. A culinária dessa planta é riquíssima. Em muitos restaurantes do México são servidos produtos a base de palma, por sua propriedade nutritiva”, explicou professor Alcides. Além de ser um alimento, a planta, segundo ele, tem índice de cálcio energético impressionante.

O idealizador da pesquisa destaca a parte farmacológica e cosmética da palma, como a produção de batons, shampoo, sabonetes entre outros. “Podemos fazer produtos de muita qualidade e a experiência de nosso projeto comprova isso”, garante. A iniciativa conta com uma parceria firmada pela UEPB com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Paraíba (Faepa) e com o Sebrae.

Para aprender as técnicas e explorar corretamente o potencial da palma, os produtores participaram de dezenas de treinamentos oferecidos pela Universidade. Professor Alcides explica que, inicialmente, o objetivo da iniciativa foi trabalhar a conscientização dos produtores agrícolas através dos projetos de extensão da UEPB, como tentativa de impulsionar a atividade agrícola no Sertão. Trazer o agricultor para dentro da Universidade, apresentando a palma como uma das alternativas de suporte forrageiro para alimentar os animais nos momentos críticos foi o primeiro desafio.

Através das pesquisas, os estudantes e professores passaram a utilizar tecnologias e metodologias de dias de campo que apresentam a palma forrageira como um dos principais alimentos de bovinos, caprinos e ovinos em épocas de estiagem. Nas experiências, os alunos de Agroecologia têm ensinado os produtores como plantar, cuidar e armazenar corretamente a planta e, principalmente, como transformá-la em farelo. “O agricultor descobre que ele tem uma matéria-prima importante dentro da propriedade, aonde para ele produzir qualquer outra ração, apenas vai trabalhar o farelo da palma”, disse professor Alcides.

Segundo o professor, o farelo de palma representa 70% da matéria-prima para qualquer ração animal. A cactácea tem toda uma capacidade para ser produzida de forma expressiva. No Sertão da Paraíba, é possível produzir até 350 toneladas por hectare, conforme o projeto desenvolvido no Câmpus IV.

Para desenvolver o projeto, o Departamento de Ciências Agrárias, responsável pela pesquisa, conseguiu junto à direção do Câmpus destinar uma área correspondente a um hectare para realizar os experimentos. A Universidade também se apropriou de tecnologia simples. Na área plantada foi utilizada um sistema de irrigação feita através de energia solar, a partir de um equipamento doado por entidades parceiras. O sistema de irrigação garante o andamento do projeto sem o uso de muita água. A Universidade vai entrar com os insumos agrícolas, aquisição de sementes e a produção da pesquisa.

Parte da produção de suporte forrageiro plantada na Escola do Cajueiro foi usada para manter os rebanhos de ovinos, bovinos e de caprinos do Câmpus. A outra parte serviu para realizar pesquisas e ainda fortalecer a cultura na região. Isso porque cada produtor recebeu certa quantidade de raquete da planta, resistente aos ataques da cochonilha do carmim que tem dizimado os palmares da Paraíba.

De acordo com Alcides Almeida Ferreira, em sete anos de execução, a UEPB treinou, capacitou e transmitiu conhecimentos para dezenas de agricultores de mais de 15 municípios da região, a exemplo de São Bento, Brejo do Cruz, Riacho dos Cavalos. No contato com os produtores, a Instituição ajudou na preparação do solo e fez a doação de 5 mil raquetes da palma para cada agricultor. Nesse período foram realizados mais de 50 eventos, entre treinamentos, seminários e encontros rurais.

Antes de partir para realizar a experiência, os agricultores aprendem a fazer o processo no Câmpus IV. O fatiamento da palma é feito em uma mini fábrica batizada de “casa de máquina” instalada no local. Na fábrica foi instalado um secador solar e um maquinário, que é usado para desidratar a planta e dela fazer ração, transformando-a em farelo. “Nossa meta é trabalhar a sustentabilidade desse projeto”, destacou o professor.

Para 2015, a meta do projeto é descobrir novas variedades da planta e desenvolver um novo sistema que vise atingir uma produção maior com uma significativa economia de água. A ideia é fazer duas colheitas no campo experimental durante o ano, potencializando ainda mais as pesquisas. “É possível se produzir satisfatoriamente com uma pequena lâmina de água e atingir uma produção superior a 350 toneladas de massa verde por hectare”, concluiu professor Alcides.