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5G será global, mas não uniforme, segundo especialista

24 de maio de 2016

Previsto para 2020, o lançamento comercial da quinta geração de redes móveis ainda é um horizonte distante, mas os testes já começaram e, com eles, a própria tecnologia vai ganhando definição. Mas se os parâmetros de desempenho (como velocidade e latência) são metas unânimes, o mesmo não se pode dizer das frequências que serão adotadas.

O gerente de produtos 5G da Ericsson, Lars Bergendahl, diz que Conferência de Radiocomunicação da União Internacional de Telecomunicações (UIT), realizada no fim de novembro passado, “não foi bem sucedida” em estabelecer faixas para a quinta geração, e que isso traz desafios para a indústria.

Na época, foi definido que o uso de faixas acima de 6 GHz para a banda larga móvel ainda precisa de estudos, que serão apresentados somente na próxima conferência, em 2019.

O gerente de produtos explica que, por conta da demora, Estados Unidos, Coreia e Japão já avançam com estudos da faixa de 28 GHz, anteriormente usada como backhaul (micro-ondas).

Outra faixa é a de 3,5 GHz, frequência que a Anatel esteve prestes a incluir no leilão de sobras também no ano passado, mas que acabou sendo retirada por ainda não haver conclusão técnica sobre a interferência com a banda C do satélite.

No final das contas, então, a 5G seria um amálgama. “Não poderá ter um padrão totalmente global”, prevê Bergendahl.

De fato, o uso da frequência de 28 GHz nos testes com operadoras nos Estados Unidos, por exemplo, não poderia ser realizado atualmente no Brasil, já que está contida na faixa da banda Ka, de 27 GHz a 30 GHz, utilizada para satélites.

“É diferente em cada país, estamos com 800 MHz (nos EUA), mas em alguns países está bloqueado. É um jogo de flexibilidade”, sustenta.

Outra faixa utilizada pela Ericsson para a tecnologia nos testes norte-americanos, a de 14,5 GHz, Bergendahl afirma ser “apenas para pesquisas”. “Na de 3,5 GHz estamos indo mais rápido”, defende.

A agregação de portadoras (como no LTE-Advanced) pode entrar no plano das empresas, considerando a utilização de transferência que integre gerações anteriores.

“É uma tecnologia de opções, pode combinar 4G com 5G, pode ter handover em portadora, ou pode ser com agregação”, afirma, citando exemplo de teles japonesas (SoftBank e KDDI) que passaram por consolidação e combinaram o espectro.

Lançamento complicado

Por conta desses desafios, além de outros de natureza técnica como os próprios terminais, Lars Bergendahl acredita que o pré-lançamento da 5G pela Coreia do Sul durante os Jogos Olímpicos de Inverno em 2018 “não é impossível, mas é desafiador”.

Assim, ele explica que as primeiras faixas para a tecnologia serão lançadas em duas etapas: o primeiro release em junho de 2018, e o segundo em 2019. “Mas não será padronizado na Coreia (durante o evento esportivo)”, ressalta.

Ainda assim, o representante da Ericsson acredita que, diferente das tecnologias anteriores, a quinta geração toma forma sem uma liderança clara de um país.

“A 5G está acontecendo globalmente, todo mundo está (trabalhando na tecnologia) ao mesmo tempo”, afirma.

A fornecedora sueca tem discutido ou já está em fase de testes com a rede móvel até mesmo em países africanos e na América Latina – como é o caso do Brasil, onde a empresa já estabeleceu parceria com a América Móvil (Claro) para pesquisas e testes de campos ainda no segundo semestre deste ano, mas sem espectro definido – provavelmente acontecerá também em 14,5 GHz, assim como nos EUA.

Novos usos

Bergendahl explica que a Ericsson está trabalhando com fornecedores de terminais para interagir com as novas tecnologias, e que a saída da empresa da indústria de celulares permite que hoje possa trabalhar com maior liberdade.

“A Qualcomm, por exemplo, está mais do que feliz em trabalhar conosco”, ri.

Explica também que a 5G pode ser ainda uma situação ganha-ganha para as teles por promover não apenas conectividade de alta capacidade e desempenho, mas por proporcionar novas tecnologias e casos de uso.

“Temos um caso de engenheiros operando da superfície robôs em uma mina a dezenas de metros de profundidade”, cita.

Outras soluções poderão vir com o tempo. “Em latência, você vê os benefícios que seriam para depois, você acaba achando um uso”, diz.

Também poderá haver opções para o consumidor final, como o uso em realidade virtual e realidade aumentada – graças à baixa latência, a 5G pode responder de forma imediata aos rápidos movimentos sem proporcionar ao usuário uma sensação de atraso na resposta e, consequentemente, perda da imersão no mundo digital.

Outra aplicação, explica, é com holograma. “Imagina ter o Justin Bieber em sua sala. São coisas que estamos trabalhando”, revela.

A pesquisa também inclui o comportamento do sinal ao atravessar paredes. Os dados são repassados para o 3GPP, grupo técnico que trabalha com a padronização do espectro.

IoT

Na visão da empresa, a implantação dessas redes de próxima geração para aplicações de alta performance é uma oportunidade de fluxo de receita para operadoras que não está ainda sendo explorada. 

O CMO da Ericsson, Jesper Rhode, cita casos como da distribuidora de energia paulista Eletropaulo, que monta sua própria rede utilizando espectro não licenciado (WiMAX) para smartgrids por ter “compliances que as telecomunicações não têm”.

“Por que eles estão gastando milhões quando podem pegar das operadoras?”, indaga.

A alternativa, dispara o executivo da Ericsson, é utilizar também o LTE de baixo consumo energético desenvolvido para a IoT, o NB-LTE (de “narrow band”).

“Com isso, você pode estender a bateria, o que significa aumentar a vida útil do sensor”, explica.