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Empregos ligados ao setor automotivo devem mudar nos próximos anos

22 de novembro de 2017

Há mais de um século, a produção e as vendas de veículos não param de crescer no mundo. Mas como na teoria do Big Bang do universo, essa expansão terá um limite, e dará lugar a um período de retração. De acordo com estudo da consultoria IHS Markit, esse ponto limite está bem próximo. A previsão é que as vendas na América do Norte, Europa, China e Índia, hoje na casa de 80 milhões de veículos, caiam para 54 milhões até 2040. América Latina, África, Oceania e parte da Ásia não entraram na conta, mas não devem afetar muito esse cálculo de 32,5% de queda nas vendas. O que terá forte impacto sobre os empregos no setor automotivo.

Dá para imaginar a quantidade de fábricas ociosas quando o mercado global encolher a esse nível? Por sinal, hoje já há muitas trabalhando longe de sua capacidade máxima, inclusive no Brasil. Será inevitável o fechamento de fábricas em nível global ao longo das próximas duas décadas, afetando absurdamente o nível de emprego na indústria. Para complicar, as fábricas sobreviventes terão de ser mais enxutas e eficientes, o que significa um nível ainda maior de automação.

Mas embora não pareça, o pessimismo passa longe desta coluna AutoBuzz. Empregos na indústria se perderão, sim, e em toda a cadeia automotiva. Mas outros surgirão para compensar, embora num futuro breve precise se repensar jornadas mais curtas e relações de trabalho totalmente diferentes das de hoje, para evitar legiões de desempregados em todos os países.

Em primeiro lugar, é preciso entender os motivos da queda de vendas globais. Segundo a IHS, o principal é que um contingente enorme de pessoas vai deixar de ter carro próprio (ou reduzirá o número de carros da família) e passará a usar quase diariamente serviços como Uber e afins, ou serviços de compartilhamento. Aliás, muitos jovens em idade de dirigir nem se importarão em tirar sua habilitação. Usarão apenas transporte público ou aplicativos.

Portanto, haverá uma frota muito maior de carros de aplicativos nas ruas, mas não o suficiente para compensar o número de pessoas dispostas a não ter carro próprio. Na prática, haverá menos carros sendo vendidos, mas os que saírem das lojas ficarão muito mais tempo circulando do que parados em garagens, o que faz todo o sentido do ponto de vista financeiro.

Já deu para notar algumas grandes vertentes de emprego? Empregos como motorista profissional. Empregos de todo o tipo nos serviços de aplicativo de transporte (atendentes, programadores e outras áreas de back office). Cursos de formação de motoristas profissionais, com grau de destreza e atendimento muito maior do que as auto-escolas de hoje (algo parecido como os exigentes cursos de formação dos motoristas de táxi britânicos). Empregos na área de logística e manutenção de serviços de compartilhamento.

Com carros circulando com mais frequência, haverá demanda muito maior para manutenção. E manutenção rápida e competente, pois um motorista profissional não pode ficar sem sua ferramenta de trabalho. Boxes de atendimento rápido substituirão as oficinas de concessionárias e grandes centros automotivos.

Novos conceitos de lojas

Por falar em concessionárias, elas não serão nada parecidas com as de hoje, que se parecem com as de 100 anos atrás, como já falamos aqui nesta coluna. As compras online vão ser a grande maioria. Em lugar de grandes concessionárias, haverá butiques de relacionamento com os clientes, e pontos de test-drive diferenciado – uma verdadeira experiência de marca, bem diferente das atuais voltinhas no quarteirão.

Ou seja, vendedores como os de hoje darão lugar a atendentes especializados na marca, com excelente formação e salários fixos (as comissões deixarão de existir). E haverá atendentes especializados em atender a nova legião de motoristas de aplicativos. Outro emprego que será valorizado será nas áreas de tecnologia e de atendimento online dos sites de vendas.

E que tipos de carros serão vendidos daqui a 20 anos? Segundo a projeção do IHS, 19% serão totalmente elétricos e 14% serão híbridos. Os outros 67% ainda usarão motores a combustão, mas de baixa emissão, focados mais na eficiência energética do que no desempenho. Afinal, já haverá um grande contingente de carros autônomos e semi-autônomos nas ruas, com um controle maior sobre o fluxo contínuo nas vias, sem muito espaço para ultrapassagens (tema da coluna da semana passada).

Esse grande número de carros híbridos, elétricos e autônomos também vai gerar muitos empregos em fornecedores automotivos de alta tecnologia. E muita gente será empregada na área de TI, serviço e manutenção de vias “inteligentes”. Enfim, que venham novos empregos que reponham as perdas nos tradicionais chão de fábrica e chão de loja.