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Cineastas contam detalhes de suas obras no último dia de debates do Fest Aruanda

13 de dezembro de 2018

Depois de terem os filmes exibidos para o público que lotou o Cinépolis do Manaíra Shopping na noite dessa terça-feira (11), os cineastas Leonardo Domingues (“Simonal”) e Torquato Joel (“Ambiente Familiar”), se encontraram na manhã desta quarta-feira (12), para trocar ideias sobre as obras cinematográficas. A mediação ficou por conta da jornalista Maria do Rosário Caetano.

O envolvimento de Leonardo Domingues com a história do cantor Wilson Simonal começou em 2009, após integrar a equipe do documentário “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”. “Eu conhecia o Simonal de infância; era um cantor maravilhoso, que tinha músicas que eu adorava, como País Tropical e Meu limão. Foram marcantes para mim”, lembra o cineasta. Mas nem tudo foi sucesso na trajetória de Simonal. Ele foi apontado como informante do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão repressor da ditadura militar no Brasil instaurada no Brasil em 1964 e, como consequência disso, foi boicotado por grande parte da classe artística.

Domingos classifica como “lendas, boatos e fake news” as versões que colocam Wilson Simonal como colaborador da ditadura. “Ele não é delator; ninguém nunca provou nada contra o Simonal. Ele é um cantor que foi apagado da nossa história, caiu no ostracismo. Ele mandou bater no contador para reaver dinheiro e a partir daí inventou-se essa história”, esclarece o diretor. Para ele, tanto o documentário quanto o longa cumprem a função de revelar para o grande público quem foi realmente Wilson Simonal e o grande mal-entendido criado em torno da figura do artista.

Os filhos de Wilson Simonal atuaram como produtores musicais do filme. “Simonal” só será lançado em setembro de 2019, mas já passou pelo Festival de Gramado, Festival do Rio e na mostra de São Paulo. “Até agora a repercussão tem sido muito boa. As pessoas têm entendido o que realmente aconteceu”, completa Leonardo Domingos.

Produção na Paraíba – Já o longa paraibano “Ambiente Familiar”, de Torquato Joel, reúne elementos documentais e ficcionais para contar a história de três rapazes (Alex, Fagner e Diógenes) que, sem parentesco, e unidos pelas circunstâncias da vida, formam um arranjo familiar contemporâneo. “O filme é uma ruptura para fim. Sempre falei que eu era curta-metragista. Eu senti a necessidade de fazer um longa a partir da pesquisa que fiz para esse filme. Conheci os personagens, passei a conviver com eles criei intimidade, mas ao mesmo tempo estava naquele ambiente com um olhar de cineasta”, explica Torquato.

Elogiado por Walter Carvalho, Torquato é considerado pela crítica especializada como um dos grandes responsáveis pela nova safra de cineastas paraibanos, como André Morais (Rebento) e Edson Lemos Akatoy (Estrangeiro). “Nada mais oportuno do que o Aruanda, sobretudo nesse ano ímpar, porque estamos tendo seis produções paraibanas de um vigor e de uma diversidade narrativa e de olhares impressionante”, destaca Torquato Joel.

Mesa especial – O último debate da manhã teve como tema “Roberto Farias: Um Diretor em Ritmo de Aventura; Possibilidades e Limites das Cinebiografias de Artistas e Gêneros Musicais Brasileiros”. Farias é um dos homenageados do evento, que faleceu em maio desse ano. A produtora e diretora Marise Farias, filha do cineasta, irá receber o “Troféu Aruanda” pela contribuição e amor ao cinema brasileiro, devotado pelo pai.

Além de Marise, compuseram a mesa os críticos Luiz Zanin e Jean-Claude Bernardet, os cineastas Hélio Pitanga e Marco Abujamra, e o pesquisador e escritor Paulo César de Araújo, biógrafo de Roberto Carlos. A mediação ficou por conta do jornalista Walter Galvão.

Roberto Farias dirigiu sucessos de público como a trilogia de filmes: “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, “Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa” e “Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora”. Os debatedores lembraram que o “rei” que acabava de estourar como grande astro da Jovem Guarda, colocava uma série de restrições ao roteiro dos filmes. “Roberto dizia: ‘não posso sofrer, não posso amar, não posso beijar’”, recorda Paulo César de Araújo. A direção de Roberto Farias e a paciência do cineasta com o cantor fizeram de Roberto Carlos um “James Bond brasileiro”, em filmes marcadamente musicais, considerados precursores dos videoclipes, recordou o biógrafo.

Paulo César de Araújo, que foi processado por Roberto Carlos após escrever a biografia não autorizada do cantor, “Roberto Carlos em Detalhes”, em 2006, destacou o caráter histórico de resgate da memória que a mesa promoveu. “A mesa teve depoimentos para a história. Estava ouvindo Jean-Claude Bernardet, que fez o roteiro do primeiro filme do Roberto Carlos. Ele está falando para a História, não só para a plateia”.

O biógrafo também destacou o legado de Roberto Farias para o cinema nacional. “Ele foi o responsável pela trilogia do Roberto Carlos no cinema. Isso é um feito! Isso só foi possível pelo temperamento do Roberto Farias, pela paciência, inteligência dele. Qualquer outro diretor teria perdido a paciência, teria desistido no caminho. Esses três filmes são documentos da cultura brasileira, até pela falta de memória e pelo pouco caso com a preservação de imagens, muita coisa se perdeu nos incêndios da TV Record”, lembrou Paulo César de Araújo.

Fest Aruanda – Até o dia 12 de dezembro, o 13º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro conta com uma programação diversificada, com debates, oficinas e exibições de mais de 30 filmes, todos gratuitos. O evento tem patrocínio Master do grupo Energisa, co-patrocínio do Armazém Paraíba e apoios da UFPB e da CGU. Realização Bolandeir@ Filmes O site é www.festaruanda.com.br e no perfil do Instagram @festaruanda