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Selo Fictício dá início à suas atividades em 2020

25 de agosto de 2020

O selo Fictício dá início às suas atividades em 2020 com o propósito de reunir, publicar e disseminar músicas não facilmente definíveis. O Nordeste sempre foi uma região de intensa produção musical, e partimos do pressuposto que essa produção gera um excedente não publicado, e é principalmente a vontade de conhecer – e fazer conhecer – esse excedente que nos move. O excedente é aquela parte que não se explica bem, ou que estraga a explicação. A música nordestina é muito facilmente contada de forma nordestinizada, que parece eternamente ressaltar a novidade e singularidade de estereótipos cansados. Mas intuímos que essa impressão é causada pela história contada pela metade. O excedente criativo costuma ser posto de lado quando não ajuda a contar essa história, vira figurante ou, na melhor das hipóteses, um coadjuvante inusitado com poucas falas memoráveis.

Vitor Çó, Rafa Diniz,Luã Brito, Matteo Ciacchi, Renê Freire, Felipe Lins e CH Malves e estão na linha de frente do selo. O centro de operações é em João Pessoa, os membros estão espalhados entre Ceará, Sergipe e Pernambuco. O ponto de encontro foi a UFPB, onde todos estudam ou estudaram. Lá, fizeram parte do núcleo mais ativo do Artesanato Furioso, grupo nômade de performance gerido por Valério Fiel que atua na Paraíba desde 2014. A imensa variedade de espetáculos, parcerias e viagens produzidas pelo grupo nos deu a nítida impressão de estar espiando pela primeira vez através de uma fresta no esconderijo do excedente criativo do nosso entorno. Pessoas das quais não supúnhamos a existência apareciam com projetos impensáveis, obsessivamente arquitetados ou visceralmente vomitados, mas quase sempre efêmeros ou sub-documentados. Assumindo que há quem veja algum charme nessa sub-documentação, pensamos que algumas histórias são boas demais para não serem contadas.

Apesar da pouca idade, o Fictício nasce bastante maduro, já contando com dois discos lançados e dois nos estágios finais de preparação para lançamento. O primeiro título do catálogo é a curiosa coletânea Música de 1 Minuto , organizada por Vitor Çó, que reúne compositores novos e veteranos do meio experimental brasileiro, cada um tendo contribuído com composições originais de no máximo 60 segundos. Além de faixas dos próprios membros do selo, há nomes como o próprio Valério Fiel, Henrique Iwao, Godpussy, Rayara Costa e Isabel Nogueira.

O segundo lançamento foi Forró Abstrato , disco de estreia do Trio Pó de Serra composto por Matteo Ciacchi na zabumba, Vitor Çó no triângulo e Leandro Drumond na sanfona. A instrumentação característica é subvertida com microfones de contato e manipulações elétricas, a seção rítmica se torna uma cor, a sanfona abandona o canto em prol de uma poderosa e lenta respiração. O familiar colonizado pelo inusitado.

Na manga ainda há outros dois lançamentos: Enquanto Ainda é Tempo , disco solo do compositor franco-brasileiro Didier Guigue, veterano da música eletrônica contemporânea e improvisação livre; e Sargaço , um duo acústico de saxofone e piano dos pernambucanos Renê Freire e Thelmo Cristovam. Ambos devem ser lançados no segundo semestre de 2020.