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Pagamentos por aproximação crescem na esteira do consumo sem contato

3 de setembro de 2020

Fazer um pagamento com cartão sem digitar a senha – ou aproximando um smartphone ou relógio, sem recorrer à carteira – costumava ser uma questão de praticidade. Com a pandemia, a opção ganhou um apelo de saúde. Os pagamentos por aproximação são uma das apostas para uma retomada com menos contato físico.

Por trás do recurso está o NFC (Near Field Communication), uma tecnologia que permite a transferência de dados entre dispositivos próximos. Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os pagamentos por aproximação movimentaram R$ 8,3 bilhões no primeiro trimestre, um crescimento de 330% em relação ao mesmo período de 2019.

Com a pandemia, a perspectiva é que a adesão a recursos como esse tenha ganhado um fôlego extra. Ele contracena com opções como o QR Code e os links de pagamento, também populares – e que agora ganham o reforço do PIX, novo meio de pagamentos instantâneos do Banco Central. Também há empresas desenvolvendo soluções de reconhecimento facil para pagamentos.

Por ora, o QR Code é mais popular: já foi usado por 35% dos brasileiros com smartphones, contra 23% no caso do NFC, segundo um levantamento da área de Inteligência de Mercado da Globo. Uma das explicações é a maior acessibilidade ao primeiro recurso. Com carteiras digitais, até mesmo quem não tem conta em banco pôde passar a utilizar os códigos para pagamentos. 

Mas o NFC também encontra espaço em alguns nichos, como entretenimento e eventos. É neles que a startup netPDV vem apostando desde que foi criada, em 2014. Suas primeiras soluções foram pensadas para os rodeios – definidos pelo fundador, Bruno Lindoso, como o pior cenário: eventos de grande proporção em regiões com pouca disponibilidade de internet.

A solução foi recorrer a cartões e pulseiras com chip que funcionam offline e permitem desde acessar o local até comprar alimentos e bebidas. Desde então, a startup atendeu eventos como Rock in Rio, Lollapalooza e Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, além de clientes internacionais, como o Estádio da Luz, em Portugal. Suas soluções já processaram mais de R$ 1 bilhão em transações.

A praticidade é só um dos elementos: com a conexão, os organizadores têm acesso a dados valiosos que relevam padrões e tendências de consumo. É possível mapear, por exemplo, as variações registradas entre eventos com diferentes atrações ou realizados em diferentes dias da semana, horários e temperaturas. Tudo, segundo Lindoso, seguindo as leis de proteção de dados.

No ano passado, a netPDV estreou sua solução fora do segmento de entretenimento. Em parceria com a Visa, passou a ofertar pulseiras para os visitantes de Fernando de Noronha. Após credenciar pontos de venda locais, a startup agora permitirá usá-las para acessar passeios e até desbloquear a porta do quarto em que os turistas estão hospedados. “Também estamos ‘tokenizando’ o cartão à pulseira. Até então, os usuários precisavam recarregar o chip”, explica o fundador.

A relação direta com o setor de eventos fez com que a startup sentisse os efeitos da crise sanitária, mas também abriu novas frentes. A startup lançou o Nada Pay, um aplicativo para pedidos e pagamentos que atende eventos como os cinemas drive-in. Entre setembro e outubro, também testará uma solução que conecta toda a praça de alimentação de um shopping no modelo cashless.

O cliente poderá fazer o pedido diretamente da mesa – ou até de outro ponto, como bancos instalados nos corredores. Nesse caso, o recurso utilizado será o QR Code. “É uma experiência positiva para todo mundo. O empresário consegue atender mais pessoas em menos tempo e quem faz o pedido tem mais conveniência.”

Os planos da startup não são os únicos a conectar NFC a QR Code. Segundo João Bragança, diretor sênior da Roland Berger para a indústria financeira, o PIX deverá ser disponibilizado para pagamentos por aproximação em um segundo momento. Até lá, seu uso em estabelecimentos deve ocorrer majoritariamente pela leitura dos códigos. “Na nossa visão, o NFC vai continuar crescendo e será complementar ao QR Code”, diz o consultor.

O fato de o PIX não competir diretamente com os cartões de crédito, ao menos inicialmente, é um dos motivos para o crescimento conjunto. Mas, mesmo que isso aconteça, Bragança enxerga uma camada de usuários que não abandonará o plástico (virtual) pelas vantagens do PIX. “É uma questão de segmento. A alta renda que utiliza iPhone e gosta de acumular milhas vai continuar usando o NFC.”