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Plataforma de streaming quer exibir o que Netflix e Prime Video não têm

9 de setembro de 2020

A plataforma brasileira de streaming Looke ainda é pequena comparada aos gigantes desse mercado. São quase 100 mil assinantes e cerca de 500 mil usuários ativos, considerando quem aluga títulos por valores individuais. Analistas estimam que a Netflix tem 17 milhões de usuários brasileiros, um número que supera o total de assinantes da TV paga no país.

O Prime Video, da Amazon, é o segundo maior player. Mas a pretensão do Looke não é competir com esses dois serviços. Na verdade, a estratégia é oposta: a Encripta, sua empresa-mãe, licencia conteúdo para as duas empresas e dá preferência a elas na oferta de novos títulos.

Sua visão de mercado é oferecer justamente o que não está nos catálogos delas. “O que Netflix e Amazon adquirem de conteúdo talvez não represente 10% do que é produzido no mundo. O usuário sempre quer mais”, diz Marcelo Spinassé, fundador do Looke e da Encripta.

A gigante varejista parece concordar. Na última semana, o Prime Video inseriu parte do acervo do Looke em sua plataforma. Por um adicional de R$ 16,90, assinantes ganham uma gama extra de 7 mil títulos. “Como nosso modelo não cria competição, conseguimos nos relacionar. O principal fator é respeitar a estratégia de cada um.”

Mudança de planos

O Looke nasceu de um misto de problema e oportunidade. Fundada em 2012, a Encripta oferece serviços como licenciamento e processamento de conteúdo para outras empresas. Um projeto iniciado em 2013 previa lançar uma plataforma de streaming em parceria com um cliente. Mas ele cancelou os planos no final do ano seguinte, quando tudo já estava desenvolvido.

Na mesma época, a Netflix passou a investir mais em conteúdos originais e diminuiu a compra do que era licenciado pela Encripta. O melhor caminho parecia ser colocar a plataforma no ar, mesmo sem o parceiro inicial. Spinassé garantiu que os clientes, em especial a Netflix, não veriam problema na jogada.

Com o caminho livre, a Encripta lançou o Looke em 2016. “O que prevíamos no começo de 2015 aconteceu. A Netflix reduziu muito as aquisições e vem diminuindo a cada ano, mas o Looke fez com que recuperássemos o faturamento”, diz o fundador. A plataforma é uma entre as quatro frentes de negócio do grupo. O faturamento total beira os R$ 40 milhões, com o Looke representando aproximadamente a metade.

Modelo híbrido

Hoje, a plataforma de streaming oferta conteúdo por dois modelos. Em um deles, o usuário paga por uma assinatura para ter acesso a um catálogo (um modelo chamado de Subscription Video on Demand, ou SVOD). No outro, chamado de TVOD (Transactional Video on Demand), o cliente aluga os títulos a que deseja assistir, como nas tradicionais locadoras. O acervo total é de 15 mil títulos, sendo 7 mil para consumo por assinatura.

O hábito de consumo difundido pelas grandes plataformas desafia essa proposta híbrida. Segundo Spinassé, muitos usuários não entendem por que nem todos os conteúdos são liberados pela assinatura. Há dois motivos para liberar um título apenas por locação: ou o conteúdo ainda não pode ser disponibilizado em SVOD, por ser recém-lançado, ou seu licenciamento nesse modelo tem um custo muito alto.

“Não dá para competir com o que Netflix e Amazon pagam. O que fazemos é buscar o melhor conteúdo possível que não tenha chegado ou interessado a essas empresas”, afirma Spinassé. Com o crescimento do Looke, a capacidade de aquisição tem aumentado. Neste ano, por exemplo, foram comprados oito filmes indicados ao Oscar.

Mas as boas práticas em relação aos parceiros também influenciam no catálogo. “Quando um conteúdo chega para a Encripta, o primeiro que o recebe como possibilidade é a Netflix. Se ela falar não, oferto para outros. Se não conseguir vender, vai para o Looke”, explica o fundador.

Ele diz estar avaliando se vale ou não a pena continuar ofertando conteúdos transacionais – ou seja, por locação. De toda forma, acredita que o modelo tende a desaparecer ou ser muito suprimido nos próximos três a cinco anos. Um dos motivos é a entrada de grandes estúdios, como a Disney, no mercado de streaming. “Para concorrer, elas vão jogar os conteúdos direto no SVOD. Teremos cada vez menos conteúdos no transacional.”

Visão de futuro

A mudança não preocupa o empreendedor. Hoje, o principal produto do Looke é a assinatura. O valor varia entre R$ 16,90 e R$ 25. A expectativa é que a parceria com a Amazon ajude a disseminar ainda mais o serviço. “Com mais assinantes e faturamento, temos mais capacidade de comprar mais e melhores conteúdos. Queremos subir a régua.”

Os primeiros 45 dias de pandemia foram marcados por um aumento de até 300% nas visualizações da plataforma, mas o patamar se estabilizou nos meses seguintes. A crise atrasou os planos de expandir a atuação pela América Latina, mas o objetivo é retomá-los no próximo ano. Baseado em estimativas do mercado, Spinassé espera que usuários brasileiros assinem em média cinco serviços de streaming. “Temos que tentar estar entre esses cinco.”