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Com case sobre vacina, Brasil é bicampeão da Olimpíada de Economia

16 de setembro de 2020

Há pouca coisa a se comemorar em 2020, mas o Brasil ganhou mais um elemento para essa pequena lista: uma delegação de jovens brasileiros repetiu o feito de 2019 e se sagrou no fim de semana bicampeã da Olimpíada Internacional de Economia.

Neste ano, o evento foi todo online em virtude da pandemia do novo coronavírus. Os participantes responderam a perguntas sobre teoria econômica, negócios, finanças, matemática e muita aplicação prática dos questionamentos econômicos da atualidade.

A etapa final da competição, com uma das tarefas que deram o título ao Brasil, é prova de como os jovens, na casa dos 17 anos, foram estimulados a pensar soluções reais para problemas dos mais complexos. Os alunos tiveram de se colocar no papel de uma potencial fabricante de uma vacina contra a covid-19 e desenvolver um business case para precificar por quanto vendê-la no mercado internacional.

No projeto, os brasileiros tentaram encontrar saídas para a distribuição rápida, efetiva e justa — com descontos para países mais pobres, por exemplo. “Não seria racional cobrar o mesmo preço dos Estados Unidos ou da Suíça na Índia ou no Brasil”, diz Guilhermo Cutrim Costa, um dos membros da delegação brasileira.

Os participantes da equipe brasileira vencedora foram, além de Costa, os alunos Luiz Eduardo Tojal Ramos Santos, Ishan Matheus de Campos Unni, Diogo Mendonça Leite e Icaro Andrade Souza Bacelar.

Os jovens do Brasil concorreram com equipes de países como a Rússia, China, Nova Zelândia, Irlanda, Letônia e Índia. A Olimpíada é destinada a jovens que ainda estão no ensino médio ou recém-formados.

A competição internacional existe há três edições e foi idealizada na Rússia, país que sediou os jogos no ano passado, quando os brasileiros faturaram seu primeiro título. A delegação brasileira a representar o Brasil internacionalmente é escolhida dentre os vencedores da Olimpíada Brasileira de Economia.

No projeto vencedor da vacina, os alunos tiveram de encontrar um equilíbrio para fazer o máximo de doses possíveis, cobrir os custos de produção e incluir alguma margem de lucro que pagasse o desenvolvimento. Uma tarefa pouco trivial. Uma das estratégias para vender as doses a um preço “moralmente aceitável” e garantir que a empresa teria capital para continuar produzindo, conta Costa, foi que os governos que receberam desconto pagariam a farmacêutica no futuro.

Enquanto isso, os jurados também fazem perguntas, como o que os alunos fariam se a patente da vacina não fosse aceita. “A gente tinha de estar preparado, calcular todos esses riscos e custos e mostrar que o modelo era viável”, diz Costa.

Além da vacina da covid-19, os alunos da Olimpíada econômica são testados com uma série de outros assuntos da “vida real”: das baixas do preço do petróleo no mercado internacional a explicações sobre por que as pessoas procrastinam.

Na etapa nacional da Olimpíada, o grupo de Costa já havia desenvolvido um business case sobre como uma empresa de turismo poderia lidar com a pandemia. “O cerne da ideia foi usar a capacidade já existente de hotéis e pousadas para pessoas que querem fazer home office em um lugar mais agradável e com mais espaço”, resume o estudante.

No ano passado, os alunos passaram um fim de semana na Fundação Getulio Vargas desenvolvendo as atividades. Mas, neste ano, o trabalho da etapa nacional também foi todo online na plataforma Discord, que costuma ser muito usada para games e foi aproveitada pela organização da Olimpíada.

Aluno de uma escola privada em São Paulo, Costa é um apaixonado por Olimpíadas: ele já venceu outras competições internacionais de física e foi aprovado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), para onde deve ir no próximo ano letivo cursar temas como ciência de dados, computação e, claro, economia.

“Acho que a economia é uma das áreas do conhecimento que abrem muito sua visão para o resto do mundo. Ela explica muita coisa, de juros compostos para investir seu dinheiro a uma visão mais ampla de como o mundo funciona”, diz.

Na preparação para as provas da competição, a equipe brasileira contou com apoios como o da consultoria Bain&Co e dos próprios mentores da Olimpíada nacional, como professores universitários e alunos de edições anteriores já formados, que hoje ajudam na organização.

Um dos idealizadores da Olimpíada brasileira, Germano Tietbohl Martinelli, lembra que ele próprio nunca havia participado de uma Olimpíada acadêmica na época de escola porque considerava que só os participantes “semideuses” estavam aptos, brinca.

Agora, um de seus objetivos é levar cada vez mais jovens para as competições, incluindo mais mulheres e alunos de escolas públicas. “Queremos chegar em dezenas de milhares de alunos inscritos”, diz Martinelli.

Uma prova de que o Brasil tem talentos de sobra e precisa, cada vez mais, ajudá-los a desenvolver seu potencial.