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Classes C e D entram na mira de produtos e serviços lançados por startups

16 de novembro de 2020

O uso da internet pelas classes C e D, que já vinha crescendo rapidamente, foi ainda mais acelerado pela pandemia. Startups lançam cada vez mais plataformas e aplicativos voltados a esse público, tanto como usuários quanto como prestadores de serviços. Conheça alguns exemplos.

De cada quatro brasileiros, três acessam a internet com regularidade – trata-se de uma legião de 134 milhões de pessoas navegando pela rede ou utilizando aplicativos para comunicação, transporte, compras ou outros serviços. Desses, 90% frequentam diariamente a rede e 58% o fazem exclusivamente pelo celular.

O índice atual de brasileiros conectados à internet, 74%, é quase o dobro dos 41% registrados há dez anos. De lá para cá, o crescimento se deu principalmente pela adesão maciça das classes C e D.

Hoje, 61% das pessoas que ganham menos de um salário mínimo têm acesso regular à internet. No patamar de renda entre três e cinco salários, o percentual sobe para 86%, de acordo com dados do Centro Regional para o Desenvolvimento de Estudos sobre a Sociedade da Informação (Cetic.br), vinculado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Movimento irreversível

A soma de todos esses dados evidencia a existência de uma legião de pessoas das classes C e D que podem se tornar usuárias de plataformas ou aplicativos desenvolvidos para resolver problemas ou proporcionar boas oportunidades de trabalho e lazer.

Essa tendência foi impulsionada pela pandemia. De acordo com a pesquisa “Impactos da covid-19 em alimentos e bebidas”, produzida pelo Ibope Inteligência por encomenda do Facebook IQ, os hábitos de compra da classe C foram drasticamente transformados desde março.

Dos consumidores da classe C, 62% compraram online em supermercados pela primeira vez durante a pandemia, e 44% continuam utilizando a internet ao menos uma vez por semana para realizar compras dos mais diversos tipos.

Para o diretor-geral do Facebook no Brasil, Conrado Leister, a classe C brasileira já desenvolveu hábitos de compra online bem próximos aos dos consumidores das classes A e B. “A classe C incorporou as compras online em sua rotina, em um movimento sem precedentes e irreversível”, ele avalia.

Lucro com impacto social

Há um número cada vez maior de startups brasileiras que, considerando o cenário, estão desenvolvendo plataformas e aplicativos voltados às classes C e D. São projetos que unem a perspectiva de lucro ao impacto social.

O resultado desse movimento é a inclusão de pessoas que até recentemente ficavam à margem do universo da tecnologia. Conheça a seguir alguns exemplos dessa tendência:

Eats For You

Propõe geração de renda formal para quem produz marmitas em casa. Cozinheiros e cozinheiras que antes estavam na informalidade ou ficavam só na vontade de empreender ganharam meios para viabilizar a ideia.

Os cardápios são ofertados por meio da plataforma, que funciona como um marketplace, encarregando-se da logística da entrega – incluindo embalagens e meios de pagamento. Com isso, as principais dificuldades dos pequenos empreendedores do ramo de alimentos são superadas.

Criada há dois anos e expandindo-se gradualmente para diversas grandes cidades do país, a Eats for You já gerou mais de R$ 1,5 milhão de renda aos empreendedores participantes. No outro lado do balcão, proporcionou acesso a comida caseira com preço justo.

UsuCampeão

A ideia é regularizar imóveis com preços bem mais acessíveis do que normalmente são cobrados. A startup já entregou mais de 50 mil escrituras a famílias que, em muitos casos, estavam numa longa espera pela oportunidade de oficializar a posse dos terrenos, pois não tinham condições financeiras para viabilizar o processo.

Além de responder à demanda que chega espontaneamente, a empresa leva equipes de atendimento a bairros mapeados das maiores cidades brasileiras. Ao consultar líderes comunitários e representantes de órgãos públicos, identifica casos de famílias que podem ser beneficiadas pelo serviço.

Estima-se que o Brasil tenha 30 milhões de imóveis em situação irregular no que diz respeito à documentação e à comprovação de propriedade.

A consulta inicial ao aplicativo, gratuita e rápida, cruza dados pessoais com informações do imóvel e da posse para informar se o caso pode ser levado adiante. Se o valor ainda ficar alto demais para as condições financeiras do cliente, a empresa oferece um crédito para o pagamento em até 30 prestações.

Dandelin

O princípio do aplicativo é proporcionar uma alternativa de atendimento privado de saúde para quem não tem condições de pagar as mensalidades dos planos convencionais – especialmente para quem perdeu o emprego ou viu a renda familiar ser reduzida em tempos de pandemia.

Em troca de uma mensalidade de, no máximo, R$ 100, o associado pode marcar consultas presenciais ou online com os 900 médicos cadastrados, de 61 especialidades.

Os gestores do aplicativo dizem que isso é possível por conta dos princípios da economia compartilhada. Ao final de cada mês, o valor total das consultas realizadas é dividido pelo número de usuários. Se o resultado passar de R$ 100, o Dandelin arca com a diferença.

Trybe

A startup tem foco na formação de profissionais para o desenvolvimento web, com um grande diferencial: os alunos só começam a pagar o curso quando conseguirem um emprego na área com salário de pelo menos R$ 3.500.

Trata-se do Modelo de Sucesso Compartilhado (MSC), inspirado em iniciativas de inclusão social adotadas em outros países. Se o aluno não seguir trabalhando na área de tecnologia ou não alcançar o patamar salarial mínimo, não precisa pagar o curso.

A chave do sucesso das apostas da Trybe está na seleção cuidadosa dos alunos. Cerca de 85% dos estudantes que passaram pelo curso já estão empregados em empresas parceiras, como Localiza, Loft, Tembici e Ambev.

Para cumprir a meta de receber pelo menos 3 mil novos estudantes até o final de 2021, a escola está recrutando 75 vagas para instrutores.

Helpie

Criada com a missão de “descomplicar” a contratação de serviços domésticos e outras necessidades do cotidiano, a plataforma digital disponibiliza mais de 35 mil prestadores, em 400 diferentes categorias.

Apelidados internamente de “helpers”, os fornecedores têm, por meio da plataforma, a oportunidade de marcar presença na internet numa dimensão que dificilmente conseguiriam alcançar por conta própria. A renda extra gerada hoje pela plataforma a esses profissionais é, na média, de R$ 480 por mês.

Um dos diferenciais da Helpie é o seguro que protege ambas as partes contra eventuais danos ou acidentes na prestação do serviço.

Findee

O lazer também faz parte da tendência. A Findee é uma plataforma que ajuda a montar os melhores pacotes para viagens nacionais com duração entre três e cinco dias.

A partir da coleta e análise de dados de diferentes fontes, a ferramenta indica as melhores opções de voos e hospedagens ordenadas por preço, com vários filtros que ajudam a refinar a busca para adaptá-la ao orçamento disponível.

A plataforma representa uma alternativa para conhecer lugares inspiradores do país sem gastar muito. Isso não quer dizer, no entanto, que é preciso abrir mão de um patamar mínimo de qualidade e de conforto.

Ao montar seus roteiros, a Findee só leva em consideração voos diretos, já que o tempo disponível para a viagem é curto, e hotéis a partir de três estrelas, bem avaliados por viajantes e localizados nas regiões centrais das cidades.