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Incerteza fiscal faz Tesouro Selic fechar no negativo pela 1ª vez em 18 anos

2 de outubro de 2020

A confusão no governo Bolsonaro em torno da forma de financiamento do Renda Cidadã, programa social que substituirá e ampliará o Bolsa Família, fez o Tesouro Selic, uma das aplicações consideradas mais confiáveis e seguras pelo mercado, fechar no vermelho em setembro.

O papel com vencimento em 2025 do título pós-fixado, que paga a taxa Selic, encerrou este mês em queda de 0,46%, o que não acontecia há 18 anos.

Não foi o único. Dos 28 títulos de dívida pública negociados no mercado (pré e pós fixados, incluindo o Tesouro Selic), 23 tiveram desempenho negativo no mês.

Juros futuros em alta

As discussões sobre a expansão das despesas federais, o possível descumprimento do teto de gastos e a queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes tiveram repercussão na curva de juros futuros.

“Esse movimento se fortaleceu de duas semanas para cá”, aponta Guilherme Artmann, chefe de renda fixa da corretora Easynvest. “Houve um leilão do Tesouro há duas, três semanas, em que ele colocou um volume muito forte de papeis. Como o volume era alto, o mercado começou a pedir mais prêmio”, explica.

Ou seja, nesse período os investidores passaram a exigir uma rentabilidade maior como forma de compensar eventuais riscos fiscais.

Esse prêmio que o Tesouro é obrigado a pagar para quem está comprando os títulos agora faz com que quem já tem esses papeis na carteira perca rentabilidade. Esses papeis “antigos”, por assim dizer, passam a valer menos que os títulos que acabaram de ser vendidos.

De acordo com Artmann, o Tesouro reduziu o ritmo dos leilões, tentando acalmar o mercado. “Mas essa história da possibilidade de uso de precatórios para financiar o Renda Cidadã fez os juros futuros subirem bastante, principalmente na segunda-feira”.

Essa foi a data em que o governo anunciou que pretendia financiar o programa com recursos de precatórios (dívidas judiciais da União) e do Fundeb (fundo de educação básica).

O anúncio foi considerado pelo mercado como uma sinalização de que o governo está disposto a dar uma espécie de calote em uma despesa obrigatória para viabilizar o programa social. A repercussão foi tão negativa que o ministro da Economia negou nesta quarta que o governo considere utilizar recursos de precatórios.

O que fazer? 

Parte dos analistas lembram que este é um momento em que pode valer a pena adquirir títulos públicos de longo prazo, até pelo fato de estarem baratos. Por outro lado, economistas alertam que essa situação, apesar de ser considerada pontual, ainda pode se agravar antes de melhorar.

“A curva de juros ainda pode abrir um pouco, dependendo do que acontecer. Mas esse é um título conservador. Teve um mês ruim, mas é um título estável”, pondera. “Além disso, a alternativa do investidor conservador é ir para títulos sem liquidez”.