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Queda no valor do auxílio e inflação de alimentos já impactam vendas dos supermercados

12 de novembro de 2020

O corte pela metade no valor do auxílio emergencial pago pelo governo e a inflação dos alimentos vêm impactando as vendas nos supermercados, em um efeito que pode se aprofundar neste final de ano.

Dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), divulgada nesta quarta pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que o segmento supermercadista teve nova queda em setembro, de 0,5% na comparação com o mês anterior. Em agosto, quando o aumento dos alimentos já começava a incomodar, a retração já havia sido de 2,2%.

O movimento foi uma das razões da desaceleração da alta nas vendas do varejo, que cresceu 0,6% no mês retrasado –analistas esperavam uma expansão de 1,4%. Após alta de 12,2% em maio, o setor ainda se mantém nas máximas históricas, mas vem perdendo força: foram altas de 8,7% em junho, de 4,7% em julho e 3,1% em agosto.

“Os supermercados foram bastante beneficiados pela paralisação de atividades não essenciais durante o período mais crítico da pandemia”, explica Isabela Tavares, economista da consultoria Tendências. “Essa desaceleração no terceiro trimestre tem a ver com a redução do tíquete do auxílio emergencial, que passou de R$ 600 para R$ 300 a partir de setembro”.

Outro ponto importante é que, por causa da alta do dólar e pelo aumento nas exportações de commodities, a inflação de comida e bebidas subiu 1,93% em outubro, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em um impacto sentido principalmente pela baixa renda. No ano, a alta é de 9,37%.

Como mostrou um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a disparada dos alimentos fez os preços percebidos pelos brasileiros mais pobres mais do que triplicarem em relação à inflação dos mais ricos em 2020.

Apesar disso, para o economista Thiago Moraes Moreira, consultor em planejamento e professor da pós-graduação do Ibmec, essa desaceleração do comércio em setembro está mais relacionado com o corte no auxílio do que a inflação.

“Em agosto, a inflação dos alimentos foi até mais forte. Essa é a primeira pesquisa que começa a captar o efeito do corte no auxílio sobre as vendas do comércio”, avalia. “Quando se desagrega os dados da pesquisa, isso fica bastante claro. Os itens com pior desempenho são aqueles com mais sensibilidade à renda: supermercados, calçados, vestuário e tecidos”.

Tecidos, vestuários e calçados tiveram retração de 2,4% em setembro, segundo a PMC.

Móveis, eletrodomésticos e material de construção sobem

Na outra ponta, as vendas de bens duráveis, em especial móveis, eletrodomésticos e material de construção, que dependem mais de financiamentos, continuaram sendo beneficiados tanto pelo isolamento social imposto pela pandemia quanto pelas condições melhores de crédito.

Móveis e eletrodomésticos registraram expansão de 1% ante agosto, enquanto que as vendas de material de construção cresceram 2,6%.

Até setembro, os consumidores ainda se beneficiavam de medidas do Banco Central que estimulavam os bancos a oferecer melhores termos para financiamentos. “Houve condições de crédito mais favoráveis e também melhoria do mercado formal de trabalho”, afirma Isabela, da Tendências. “Esses movimentos ajudaram o varejo para além dos itens essenciais”.

Daqui para a frente

Na avaliação de Moraes Moreira, do Ibmec, a tendência é que esse impacto da redução do auxílio se torne mais forte sobre as vendas nestes últimos meses do ano.

“O prognóstico para o restante do ano não é muito bom, porque o auxílio vai tendo um alcance cada vez menor. E quanto olhamos para aquilo que poderia substituir esse estímulo, que é o mercado de trabalho, não está acontecendo. A taxa de desemprego está muito elevada”, aponta.

Além disso, desde o mês passado os bancos não possuem mais os estímulos do BC ao desconto ou suspensão de financiamentos. “Esse é um efeito que vai se observar a partir de outubro”, diz Isabela.