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Pandemia tira emprego de metade dos Papais Noeis

13 de novembro de 2020

É difícil saber quantas pessoas trabalham como Papai Noel no Brasil. Mas uma coisa é certa: em ano de pandemia, mais da metade deles não vai ter emprego neste Natal. Os que vão trabalhar, estão aprendendo a exercer o papel de bom velhinho de formas diferentes.

“Dos cerca de 150 papais noéis profissionais que existem aqui no Rio, acredito que, no máximo, 75 vão trabalhar este ano, e todos virtualmente”, diz Raymundo Nonato, 59, Papai Noel e presidente da Associação Dos Papais Noéis do Estado do Rio de Janeiro.

Para ajudar a qualificar os profissionais para essa nova maneira de trabalhar, a associação está dando aulas práticas para eles aprenderem a gravar vídeos e fazer visitas virtuais. “Muitos deles são idosos, têm mais de 65, 75 anos e não são muito íntimos dessa tecnologia toda”, conta Nonato. O curso, segundo ele, é gratuito para os papais associados à entidade.

Mas nem só de zoom vai ser feito este Natal, segundo Jorge Occhiuzzio, Papai Noel há mais de 30 anos e dono da agência paulistana Papai Noel Brasil, que tem um cadastro com cerca de 180 profissionais. “Desta vez, muitos shoppings não vão contratar papais noéis. Um dos meus agenciados, quando soube que este ano não poderia trabalhar, ficou tão mal que teve que ser internado”, conta ele, que já foi Papai Noel em festas de famosos, como Faustão e Adriane Galisteu.

Boneco ou telão

Em muitos shoppings, o Papai Noel “humano” está sendo substituído por um boneco em tamanho real. Alguns se mexem, outros ficam inertes.

Mas na maioria dos centros de compras, a presença do bom velhinho vai ser virtual. “O Papai Noel fica numa sala e de lá a imagem dele é transmitida por um telão e assim ele interage com o público, em tempo real”, conta Occhiuzzio.

Em outros shoppings, essas mensagens vão ser gravadas e espalhadas pelo centro de compras, em várias telas.

BBB Noel

Mas uma das soluções mais criativas encontradas para prevenir o contágio dos bons velhinhos vai ser uma casa de vidro, ao melhor estilo Big Brother, na qual o Papai Noel vai ficar, protegido. Em alguns casos, por meio de microfones, ele poderá falar com as crianças.

“Nesses casos, eu até acho uma boa e fecho contrato com os shoppings. Mas presencialmente, sem proteção, não estou aceitando nada”, diz o agenciador. Ele conta que algumas empresas e famílias (ele não quis citar nomes) estão organizando festas presenciais para mais de 60 pessoas e querem contratar um Papai Noel tradicional: sem máscara, sem zoom, sem cabine de vidro. “Queremos estar vivos no ano que vem. Por isso não aceito nenhuma dessas propostas”, diz Occhiuzzio.

Pessoas com mais de 60 anos são grupo de risco para o coronavírus. No Rio de Janeiro, houve até mortes de profissionais durante a pandemia. Perdemos pelo menos quatro Papais Noéis para a Covid-10”, diz Nonato.

Máscara com barba

Há também os papais noéis que são, digamos, “freelancers”. É o caso do designer gráfico Ismael Vicente da Silva, 69, que trabalha num jornal de São Paulo o ano todo. Nos meses de dezembro, ele costumava tirar férias para trabalhar como Papai Noel. Fazia presenças em shoppings, como o Iguatemi e em festas de família.

Este ano ele já está sendo convidado novamente para ir às festas familiares. “Vou fazer o teste uns dias antes e estou providenciando uma máscara com a barba acoplada nela”, diz Silva. “Acho que virtualmente não tem muita graça. Mas, se a situação de contágio se complicar novamente, faço tudo por computador”, explica ele.

E o cachê?

O preço que os profissionais cobram varia muito. Silva, por exemplo, pede de R$ 500 a R$ 600 por visita. Mas há profissionais que cobram até R$ 2 mil por visitas na noite do dia 24 de dezembro.

Quando o Papai Noel vai presencialmente a um shopping, ele recebia em torno de R$ 400 por dia. O problema é que este ano haverá menos dias de presença. “Em outros anos, os Papais Noéis chegavam a trabalhar de 45 a 60 dias antes do Natal. Mas desta vez, seja por vídeo ou para ficar na casa de vidro, a contratação está sendo feita para um período menor, de 30 dias”, conta Nonato. Seja em qual for a modalidade, o valor do cachê, segundo ele, encolheu pelo menos 10% em 2020, por causa da crise econômica.

Sem contar que várias festas de fim de ano, em empresas e hotéis, não vão acontecer. “É triste. Mas a saúde vem em primeiro lugar”, diz Occhiuzzio.