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Carolina Candeia – “O mercado se encolheu, as oportunidades se tornaram mais escassas e, com o passar dos meses, tive que ajustar minha rotina e encontrar de alguma forma de exercitar minha criatividade”

Autora de "Amor Adeus Amor: eu não existo com você" conta sobre o processo criativo da obra

1 de outubro de 2021

Diminuir minha ansiedade pela pandemia e dar vazão a minha vontade de criar, aos meus pensamentos e sentimentos. Esse foi o motivo que levou a empreendedora Carolina Candeia a escrever seu primeiro romance. Há menos de um mês lançado pela Amazon, “Amor, Adeus, Amor” já é o oitavo mais vendido na plataforma, o quarto mais acessado na categoria LGBT e já foi destaque na imprensa nacional.

O livro, cujo título veio de uma música portuguesa, remete à vida de Alice, uma mulher que percebe que sempre esteve envolvida em relacionamentos abusivos e tóxicos. Ao identificar tal comportamento repetitivo, Alice parte em uma jornada de autoconhecimento, para refazer sua vida, amando a si mesma. Neste caminho, descobre a bissexualidade e tantos outros aspectos de autossabotagem.

Com capa do design maranhense Roneylton Neiva, o livro participa do 6° prêmio Kindle de Literatura.

Confira a entrevista de Carolina:

Como foi o processo de criação do livro?

A pandemia trouxe muitas incertezas. Minha realidade de trabalho mudou radicalmente. O mercado se encolheu, as oportunidades se tornaram mais escassas e, com o passar dos meses, tive que ajustar minha rotina e encontrar de alguma forma de exercitar minha criatividade. Profissionais de inovação precisam manter o processo criativo. Então, comecei a escrever. Da primeira linha ao último parágrafo demorei quatro meses até concluir o livro, que passou por várias versões até chegar ao resultado final.

Do que se trata “Amor Adeus Amor: eu não existo com você”?

Trata-se da história de uma mulher (Alice) que repete relacionamentos abusivos e tóxicos. Quando ela percebe este comportamento, começa uma jornada interna em busca dos gatilhos emocionais que a levam sempre nessa direção. Em meio a isso, tem a descoberta da bissexualidade, a reconstrução das relações, um novo amor e o reencontro consigo mesma. O livro é uma autoficção. Tem elementos que identifico na minha própria história. Mas não é uma biografia.

Quais foram as inspirações para o livro?

As questões humanas sempre me interessaram. Gosto de observar as pessoas se relacionando e enfrentando desafios. Os assuntos que abordo são muito comuns na atualidade feminina. De alguma forma me reconheço nelas. Já vivi relações abusivas e principalmente me autossabotei diversas vezes. As inspirações surgiram daí. De repente vem um pensamento, uma frase solta, uma música que escuto ou uma cena aleatória num filme. Depois, minha mente faz as conexões até formar o enredo.

Que passagens podem atrair a atenção do público ou gerar algum tipo de comoção, empatia ou identificação?

Cada pessoa que lê o livro tem uma reação diferente. Penso que a identificação é individual, porque cada um traz suas próprias vivências e bagagens emocionais. Algumas vão empatizar com o abandono, outras com os questionamentos de Alice. Algumas vão se ver como Clara, a ex-esposa. Muitos leitores já enfrentaram o desafio da depressão, ou as dúvidas sobre sexualidade, ou também estão percorrendo o mesmo processo de autoconhecimento da personagem. Então é difícil determinar onde o texto vai impactar. Mas, tenho adorado receber os feedbacks.

Em determinado trecho, a personagem fala que escolheria nascer ‘adequada’ se pudesse. Pode comentar mais a respeito?

É a personagem quem fala isso (risos). Mas, compartilho esse questionamento. Acredito que seja porque não gosto de ser encaixada em padrões predeterminados. Penso que os rótulos são limitantes. Reconheço a dificuldade que boa parte da sociedade tem de lidar com personalidades diferentes e elásticas, como a minha, por exemplo. Pessoas que não se contentam em ser ou fazer uma única coisa. Sou múltipla. Minha própria trajetória profissional atesta isso. Sou dentista, trabalhei em saúde pública, virei empreendedora, depois montei startup, migrei para área de inovação, faço consultoria e mentoria para empreendedores de vários segmentos, coordeno programas de transformação digital. E agora, escrevi um romance. Quando eu digo ‘nascer adequada’ é que muitas pessoas exigem que tenhamos uma única forma de agir, sentir, ser, fazer e pensar. Sob essa perspectiva, nasci inadequada.

Como é a sua relação com a literatura?

Adorei escrever o livro. E já estou planejando o segundo. Mas, entre escrever, publicar, divulgar e vender um livro, há uma estrada bem longa. Ser escritor no Brasil não é tarefa fácil, muito menos para iniciantes e independentes. Quero continuar contando histórias, participar de eventos e concursos literários. Entrar definitivamente neste mundo instigante. Quem sabe inovar também, criando uma startup no segmento editorial. Escrevo desde criança. A escrita é minha forma de viver a arte. Alguns tocam instrumentos, outros fotografam, eu escrevo. Amo os livros, adoro ler e leio de tudo. Minha escritora predileta é Clarice Lispector.

Qual é a expectativa quanto à resposta do público?

Espero que as pessoas leiam e que de alguma maneira o livro ajude muitas delas, principalmente mulheres. Minha irmã me disse uma frase que não esqueci, quando me questionava se deveria ou não publicar: “um livro é um presente para o mundo. A história deixa de ser sua propriedade, para ser uma mensagem para o leitor”. Espero que a mensagem chegue a quem precisa dela.