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Alex Mesquita: “O que tem me despertado são as frutas regionais, a proximidade de conhecer as particularidades me desperta à atenção e a curiosidade para criar coisas novas”

Consultor atuou na elaboração da carta de drinks do BA'RA Hotel

13 de dezembro de 2022

João Pessoa recebeu recentemente um dos mixologistas mais influentes da coquetelaria Brasileira e latino-Americana nos últimos anos, Alex Mesquita. Sua vinda à capital paraibana tem ligação direta com o BA’RA Hotel. Alex Mesquita é químico em bebidas, consultor em bares e mixologista formado pela Universidade do Coquetel em Buenos Aires. É vencedor dos prêmios Veja Rio nos anos de 2013, 2014 e 2015, do prêmio Prazeres da Mesa ano de 2015 e Revista Gula ano 2014. Ele ainda fez parte do juri latino americano do Spirit Awards do Tales of the Cocktail Foundation.

O Paraíba Total conversou com o consultor que falou sobre a sua vinda, como foi o trabalho e consultoria e como ele enxerga o mercado de gastronomia e coquetelaria na Paraíba. Além disso, Alex Mesquita, que se diz encantado com as belezas e potencialidades do estado deixou uma mensagem aos paraibanos e leitores do Paraíba Total. A entrevista completa você pode conferir abaixo:

Qual o motivo da sua vinda para João Pessoa?

Basicamente, o motivo de eu ter vindo a João Pessoa é que eu conheci os gerentes do BA’RA Hotel há, aproximadamente, três anos em outro projeto, que era no Rio Grande do Norte. O que me deixou encantado com a região. Porém, passamos pelo período de pandemia e quando tornei a fazer contato com eles obtive conhecimento do projeto que é o BA’RA Hotel. Busquei estudar um pouco sobre a região, comecei a receber alguns comentários bem positivos do que eles estavam trabalhando. Até que me deparo com o BA’RA e fiquei encantado! Foi aí que falei: olha, contem comigo para construção em parceria dessa carta e eu estou aqui pela segunda vez. É isso, eu venho por isso, para montar a carta de drinks dos dois restaurantes.

Como tem sido o seu trabalho aqui com as equipes dos restaurantes do BA’RA Hotel?

Bom, o meu trabalho hoje é como consultor e ele está, basicamente, sendo o de primeiro trabalhar as pessoas, elevando a autoestima desses profissionais que estão nos bares porque é o que eu falo pra eles é: vocês são jovens e criativos. Mas como se constrói a produtividade? A gente não nasce criativo. Então, como eles ainda não têm uma base formada de coquetelaria e com os caminhos que eu já percorri na profissão – independente de ser químico ou com bebidas –, eu consigo ajudá-los para que eles reduzam tempo e desperdício nas criações. Então, baseado na regionalidade, nas cachaças da região, nas frutas que a biodiversidade é muito grande, eu começo a construir com eles alguns pilares que eles nem imaginariam. Por que o que é se imagina quando eu venho fazer uma carta ou quando eu estou em parceria com algum hotel ou restaurante, é que eu assine 100% dela. Mas a pergunta é: e quem está reproduzindo, quando vai criar? Então, comecei a pensar dessa forma pra elevar também a autoestima deles, da equipe, fazer com que eles fossem mais participativos comigo nas criações, despertando a potencialidade de cada um.

Entrevista com Alex Mesquita
Alex Mesquita

Você é carioca, do Rio de Janeiro, conheceu um pouco do Nordeste com a passagem pelo Rio Grande do Norte e agora está conhecendo um pouquinho da Paraíba. Do que você já conheceu de sabores, temperos e frutas e cheiros, o que te despertou?

Eu sou fã de caju e o caju não é uma fruta que a gente encontra facilmente no Rio. São Paulo sim, porque boa parte das frutas que vem de outros estados, que participam de outros idiomas, vai tudo pra lá. Então, aqui o que tem me despertado são as frutas regionais, umbu, cajá, caju. Tenho visto frutas na rua que eu só compro no Rio ou em São Paulo e além de pagar super caro, elas aqui eu vejo todo dia. Então a proximidade de consumir essa fruta, de conhecer mais as particularidades me desperta à atenção. Eu não estou falando só das belezas naturais, que aqui são repletas. Mas o contato com a chefe de poder estar apresentando um pouco do que o paraibano gosta, do que ele come, isso tem me despertado uma grande curiosidade em criar coisas novas.

Você acha que também tem muita diferença entre os empreendedores e negócios aqui e os caminhos que ainda precisamos trilhar?

Sim, uma das coisas que mais tenho conversado com profissionais, jornalistas e alguns críticos é que realmente hoje pro mercado de gastronomia e coquetelaria é que infelizmente ainda há diferença. Só olham para o grande eixo, que é Rio/São Paulo. Mas o meu intuito de vir pra cá é justamente poder contribuir para um melhor aumento de capacitação de mercado e, com isso, ganha vocês, nós ganhamos como clientes e o mercado ganha. Então, eu acredito que falta, principalmente, para as empresas de bebidas, eu estou falando pela minha parte, como mixologista, né? Olhar mais pra esse setor aqui, não ficar só na região Sudeste. Porque a gente também tem um sul que está lá embaixo e que passa por uma coisa parecida, embora o clima seja diferente. E aqui nós temos também predisposições de empreendimentos incríveis. Mas, no meu entender, a demanda por capacitação ainda é muito grande e o mercado agora está começando a mudar e eu venho justamente nesse momento e eu quero acompanhar esse processo e tomara que ele seja crescente.

Hoje, de barzinhos na beira da praia a restaurantes, temos uma oferta melhor de drinks. Você acha que isso se deve a quê?

Isso acontece porque muitos clientes que vem de outros estados trazem consigo esses conceitos. Por exemplo, temos Belo Horizonte em Minas Gerais, tida historicamente como terra da cachaça, isso porque ali ocorreu o ciclo do ouro, do café e da cana-de-açúcar. Então, essas outras regiões quando vêm pra cá, eles acabam trazendo algumas particularidades e isso vai pegando porque, às vezes, existe a pergunta e vem o “nossa que legal”, “vou preparar pra você, não conhecia” e a tendência vai sendo criada aí.

Vocês acham que também tem moda, por exemplo, moda do Gim?

Sim, costumamos dizer que isso é uma tendência global. Ela chega, fica no hype e depois acontece outro movimento em que as pessoas vão acabar conhecendo, mas para conhecerem tem que se tornar popular e democrático.

Qual mensagem você pode deixar para os paraibanos?

Estou encantado com a Paraíba e seu povo, que é super hospitaleiro. Estou contente e enxergando uma possibilidade de crescimento no mercado da gastronomia, coquetelaria e a cultura de hospitalidade e serviços para área de turismo. Que bom termos passado por um processo complicado como o da pandemia, em que muitos estabelecimentos fecharam, mas acho que agora é momento de reaquecermos tudo isso e obrigada a Paraíba por me receber tão bem.